terça-feira, 16 de junho de 2009
LoveLeeRita - Ná Ozzetti (1996)
A Ná “desrroqueou” a Rita! E isso não é uma coisa que se pode fazer assim, todos os dias, certo?
Ná Ozzetti coloriu o som da Rita com cores diferentes, mais leves, com a cores de sua tradição vinda do Rumo e também de sua formação lírica. Demorei pra me convencer que o “LOVELEERITA” era legal, que podia sim, transformar o rock da Rita Lee em outra coisa e no fim, sair algo bonito.
E também acho que toda tentativa de interpretação tem muito de coragem, ousadia e amor. E que deve ser massa cantar Rita Lee, ah, isso deve! Irresistível…
Enfim, uma super homenagem com um repertório escolhido a dedo, precioso mesmo…
“Atlântida” (Saúde 1981) fica onde? Não sei se ela desapareceu do mapa ou sumiu mesmo foi do meu imaginário. E como a música diz “Que o mundo é dos que sonham/ Que toda lenda é pura verdade”. Ná Ozzetti canta bonito, lento, cada palavra fica nova com sua voz. O violão dá um som de roda, circular, que embala o ouvinte. O cd abre sonhando…
“Com a boca no mundo” (Entradas e Bandeiras 1976) tem um suingue gostoso e logo já vai dando aquela vontade de dançar. E aos poucos vou sendo levada por esse novo tom que Ná Ozzetti imprime às canções. Essa música é a cara da Rita Lee! Ela ainda meio menina, encontrando seu passo entre seu corpo, sua voz e sua vontade de botar a boca no trombone. “Com a boca no mundo” é uma verdadeira descoberta. É interessante como a Rita Lee (sozinha ou com outros compositores que não o Roberto de Carvalho - pelo menos no LOVELEERITA) compunha músicas completamente viajantes, grandes. Aqui eu falo de amplitude mesmo. Ela viaja em milhares de temas, descobre cavernas, anda por outras estradas. Com o Roberto, as composições já são mais sexuais, apaixonadas, muitas quase corporais. Que também é o máximo…
Acho esse poder de movimento muito legal – o de como uma parceria pode mudar teu “drive”. A Rita faz isso muito bem, se entrega.
“Mania de você” (Rita Lee 1979) na versão da Ná chega mais rápida, dançante. Acho que mais pop mesmo, menos carregada de estória. “Mania de você” foi composta pelo casal quando ainda estavam na cama… Na delícia da hora.
Foi interessante essa mudança de estilo (apesar de ser fã da versão original), já que com a Ná a estória é outra… No lugar da cama, entram os mil sopros que são de matar.
Bem, “Mutante” (Saúde 1981): essa é uma das minhas músicas favoritas da vida…
Ela chega chameguenta, entrando e tomando conta de mim sem pedir licença. E eu deixo…
Mutante é linda sempre e ainda mais nessa versão, que de quebra tem um trombone. É um escândalo simplesmente.
“Kiss me baby/ Pena que você não me kiss”.
É delicada, é exagerada, é a combinação perfeita das palavras. Tudo isso junto explode nessa música de amor temperada de todos os cheiros: dor, ressentimento, paixão, tesão e abandono.
E aí, “Mutante” levanta, toma força e nos deixa.
“Quem disse que eu tenho que me cuidar/ Tem certas coisas que a gente não consegue se controlar/ Comer um fruto que é proibido/ Você não acha irresistível?”
“Fruto Proibido” (Rita Lee & Tutti Frutti1975) malandraça! Essa versão tá cheia de percussão e guitarra. Tá muito massa! A música é um desses convites que a gente não tem coragem de fazer, sabe? “Fruto Proibido” é aquela vontade de desanuviar, de trocar de fantasia e sair vivendo.
Em “Luz Del Fuego”, que também está no disco Fruto Proibido, Ná Ozzetti não aguenta e roquenrroa total! Essa música é demais! “Hoje eu represento o segredo/ Enrolado no papel”. É incrível como Luz Del Fuego mexeu com o imaginário feminino. Muita cantora já cantou essa música e sempre muito bem. É que Luz Del Fuego não tinha medo…
O título “Raio X” (Bombom 1983) é perfeito para a velocidade da música. O som se arrasta e se espalha por cada vão e aí a gente se dá conta de “Quem nunca teve um sonho/ Quem é que não é sozinho”.
Essa música me faz pensar nessas cidades grandes, onde a janela da sala dá vista para enormes viadutos de concreto. O que a modernidade pode trazer de mais solitário.
A modinha mais poética que eu já vi é essa “Modinha”(Babilônia 1978) aqui. Linda…
“Todo remédio que me cura tem uma contra-indicação”. Perfeito.
Ná Ozzetti se descabela em “Mãe Natureza” (Atrás do Porto tem uma Cidade 1974). Não segura a onda dessa música e pira. Pira ela, pira a guitarra. E bem que fazem!
“Mãe Natureza” na minha opinião é a nossa erva de cada dia, aquela que embaça a mente na pitada certa e a gente já não sabe se estamos pirando ou as coisas é que estão melhorando!
Rock’n’roll de primeira, arraso. E eu tô facinha – que venha a mãe natureza tomar conta da minha cabeça. Oh yeah!!
Me lembro da primeira vez que ouvi “Doce Vampiro” (Rita Lee 1979). Eu ainda era menina e tinha uma prima mais velha que respirava Rita Lee. Um dia ela me chamou pra me mostar essa música, e eu mesmo ainda menina, achei o máximo…“Doce Vampiro” com Rita é imbatível…
Já que eu entrei no campo da memória… Enquanto no meu mundo só cabia Caetano, meus amigos de Barão, Mateus e Paulinho já ouviam Os Mutantes, ou pelo menos já sabiam da existência do grupo. E foram eles que me ensinaram essa musiquera toda. “2001” (1969) e “Vida de Cachorro” (1972) são lindas…
Adoro isso aqui: “Na velocidade da luz/ A cor do céu me compõe/ O mar azul me dissolve/ A equação me propõe/ Computador me resolve/ Amei a velocidade”.
Não é demais?
E o LOVELEERITA acabou. E eu que comecei esse texto ressabiada, enciumada da Ná roubando a minha Rita, termino esse post numa sensação de curtição total. Que delícia isso!
Ponto para Ná Ozzetti e um milhão de pontos para Rita Lee. I you love.
[ANDRÉA]
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Déa, adorei a resenha. Você não comentou do título, que é um achado... Ou será que é muito óbvio?
ResponderExcluirTe amo, PQ.