quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Saúde - Rita Lee (1981)

O que fazer depois de 2 discos de sucesso em dois anos seguidos? A resposta parece óbvia: um terceiro disco de sucesso no terceiro ano. É assim que funciona a indústria fonográfica, ainda que o humor e criatividade dos artistas contratados nem sempre consigam acompanhar. Mas, para esta indústria fonográfica, pouco importa, o que vale mesmo é o saldo de vendas. Vamos examinar agora o outro lado da moeda, o lado do artista. Os dois discos de sucesso de Rita Lee, em 1979 e 1980 (resenhados aqui) tinham razão de ser: eram grandes coleções de canções inspiradas com arranjos criativos e modernos (pra época) e uma produção impecável. A somlivre não poderia deixar passar batido e em 1981 deveria vir outro campeão de vendas.

Saúde, de 1981, consegue realizar bem o lado da gravadora, mas deixa um pouco a desejar do ponto de vista das canções, mas ainda assim, vale a audição. Aqui, Rita está um pouco mais cansada (ainda que o disco apresente umas 3 ou 4 canções muito boas) e a repetição das mesmas fórmulas nos arranjos e na produção dos discos anteriores, faça este disco soar como uma “continuação” dos álbuns anteriores.

Rita clama quero mais: saúde! E esse grito pode até ser interpretado dentro deste contexto que contrapõe artista e gravadora, ainda que a intenção da letra seja claramente outra:
Me cansei de escutar opiniões / de como ter um mundo melhor ... Mas ninguém sai de cima / nesse chove não molha / eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim!...

Por sinal, saúde, a música que abre e dá o título ao disco, é o pop-rock perfeito que Rita e Roberto conseguem repetir aqui, com certa cara de novidade. Naquele tempo a gente pousava delicadamente a agulha sobre a bolacha preta de vinil e o “shhhhhhhh” chiado baixinho (mas perceptível) do diamante percorrendo os sulcos eram como uma introdução sonora aos discos. Então vem a introdução de Saúde (a música), acho que não consigo lembrar de outra introdução de música tão bonita quanto esta: a batida levemente disco acompanhada de uma sutil guitarra e um lick repetitivo de piano elétrico soam como uma preparação para a música que vai começar. De repente uma frase de guitarra vem como que apresentar Rita que entra em seguida, cantando firme: me cansei! De lero-lero! Dá licença mas eu vou sair do sério...

E a música mistura a batida disco com um guitarra stoniana, seguindo a sugestão que os próprios já haviam dado em Miss You (1978). Saúde tem um andamento que fica entre o lento e o acelerado e é uma delícia de ouvir. Fiquei anos sem ouvi-la, e acho que hoje gosto mais dela do que da primeira vez que ouvi.


Outro momento memorável é Banho de Espuma, que alia à letra sutilmente sacana de Rita Lee, um arranjo cheio de metais (assinado por Lincoln Olivetti, que também tocou o piano em Saúde), mudanças de andamento e uma bateria eletrônica (não sei se é, ou é tocada de maneira a parecer assim...) que era marca registrada nos discos típicos dos anos 80 “hooked on classics”, “ hooked on swing”... Além destas destacam-se Mutante, que apesar do nome não é referência aos Mutantes, mas uma linda balada romântica, cheia de sons espaciais de sintetizadores e uma percussão meio puxada pro latino, e mesmo assim a mistura fica de muito bom gosto. Atlântida também é outro bom momento. Aqui também vemos Rita e Roberto experimentando uma sonoridade nova, que não aparecia nos disco anteriores. A bateria “eletrônica” citada antes aqui vem mais forte, mais marcada (primórdios do bate-estaca), já que o arranjo é, sonoramente, mais limpo, mais econômico. Destacam-se Rita Lee que canta sussurrando, o acompanhamento rítmico de piano de Lincoln e a guitarra inspiradíssima que vou creditar a Roberto (apesar de que o encarte do disco não deixa claro quem tocou). Tititi é o momento rock’n’roll do disco, e foi até trilha de novela numa versão regravada por Virginie e sua banda Metrô. Boa canção, mas não chega nem aos pés de Ôrra Meu (´80) ou Papai me Empresta o Carro (´79), dos discos anteriores. Tatibitati é prova cabal de que Rita e Roberto estavam se cansando de todo esse troço (Rita Lee tinha virado mega star com direito até a especial de fim de ano na Globo). Mother Nature é a versão em inglês para Mamãe Natureza (´74, ver a resenha de Atrás do Porto...) e nada acrescenta a versão original, enquanto que Favorita foi cedida pra Roberto de Carvalho cantar, experiência que não se repetiria mais, graças a deus. Duas canções com cara de “estamos enchendo lingüiça pra fechar o disco e lançar antes do natal”, como de fato aconteceu e eu, o ganhei no natal de 1981. [M]

3 comentários:

  1. OH EXCELENTE DISCO SERIA BUENO PODER ESCUCHARLO ,DESPUES DE TANTO TIEMPO SIN VERLO.

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  2. Pode não ser dos melhores mas o instrumental da música saúde é contagiante e dançante e eu particularmente me amarro nele, o resto é resto. E por falar em instrumental, será que existe a versão instrumental da música saúde na íntegra como a vocal?
    Se alguém tiver notícias sobre, peço que me ajude e forneça o canal.
    Escreva-me claudiojjacyntho@ig.com.br
    Agardeço á todos!

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  3. Passa aí o link pra download!

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