Cantora, compositora, percursionista, atriz, desenhista,
ativista, enfim, Karina Buhr é uma artista completa. E como se não
bastasse, os dois discos da sua carreira solo são tão bons que foi
difícil escolher qual deles seria primeiramente selecionado para entrar nesse
blog.
Depois de muito escutá-los, resolvi falar sobre o primeiro.
Com perdão do trocadilho, eu mentiria para você se dissesse que ouvi esse disco
na época do seu lançamento, em 2010. Não
me recordo ao certo como que fui descobrir a Karina Buhr, mas creio que foi em 2012 através da internet e posso afirmar que foi paixão à primeira
vista.
Baiana de nascimento, crescida em Recife, Karina Buhr é
daquelas que se entrega de corpo e alma ao que faz. Embora eu ainda não tenha tido a
oportunidade de assisti-la ao vivo (aguardo-a em Curitiba), já pude constatar
em vídeos que seus shows são espetaculares. Sua música é carregada de
energia. Seu suor, solidifica, vira pó.
Com currículo recheado de diversas manifestações culturais, em
1997 Karina Buhr formou a banda Comadre Fulozinha, com a qual gravou três
discos[1].
Esse rico histórico certamente contribuiu para que seu disco solo de estreia já
apresentasse uma sonoridade tão marcante, combinando canções ao mesmo tempo
bonitas e fortes. Mas vamos ao disco em questão:
Depois de abrir com a canção que batiza o CD, na qual o
sotaque pernambucano agrega muito à música e demonstra toda sua singularidade, o
disco segue com a original “Vira Pó”, para emendar numa canção que é, para mim,
uma das suas melhores: Avião Aeroporto.
“Porque o corpo humano tem a resistência
perfeita
Se bate de leve, dói, bate de com força, mata”
Se bate de leve, dói, bate de com força, mata”
Além de uma letra contundente, a música tem uma batida que
nos remete ao mangue beat. No youtube tem algumas versões dessa canção
nas quais ela dá um verdadeiro espetáculo. Recomendo a gravação no programa Na
Brasa, com a participação da guitarra singular do Edgard Scandurra: https://www.youtube.com/watch?v=cltr2yXbn0M
“Dorme antes do míssil passar
Daqui a um segundo Eu posso não ter mais você
Você não mais que isso”
Daqui a um segundo Eu posso não ter mais você
Você não mais que isso”
“Nassíria e Najaf” nos emociona ao falar do universo de
crianças que vivem nessas duas cidades iraquianas fortemente bombardeadas
durante a guerra do Iraque. Infelizmente, esse tema se mantém na Palestina,
Afeganistão e outros tantos lugares, tornando a música tragicamente
atual. Seu clipe é tocante: https://www.youtube.com/watch?v=aPx5e4BVlWI
O disco segue brilhantemente com “O Pé” e “Ciranda do
Incentivo”, canção na qual é faz uma paródia com o mercado fonográfico:
“Eu não sei negociar...eu sei no máximo tocar
meu tamborzinho e olhe lá...”
Depois vem “Telekphonen”, música experimental em que ela
insere uma letra em alemão. Som completamente diferente, mas que vale a pena
escutar. Nessa canção, ela faz uso do Theremin, instrumento
musical eletromagnético criado pelo russo de mesmo nome, cujos sons são obtidos
com movimentos da mão. Interessante.
Depois o ritmo diminui, sem perder o tom crítico em “Mira
Ira”:
“Tá tudo padronizado
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não
Tá tudo padronizado”
No nosso coração
Nosso jeito de amar
Pelo jeito não é nosso não
Tá tudo padronizado”
O ritmo volta a subir em “Soldat”, o verdadeiro poema
cantado em ritmo punk-rock. Depois vem as igualmente boas “Esperança Cansa” (minha fúria odiosa já está na agulha) e
“Solo de Água Fervente”.
“Essa tarde dourada que traz
felicidade pras pessoas normais”
felicidade pras pessoas normais”
“Bem vindas”, a penúltima canção, é mais uma que tem uma
letra inspirada, mas dessa vez com um ritmo mais lento, quase como se fosse uma
canção de ninar. Excelente.
“Hoje eu não tô afim
de corre-corre e confusão
eu quero passar a tarde
estourando plastico bolha”
de corre-corre e confusão
eu quero passar a tarde
estourando plastico bolha”
O disco encerra com a criativa “Plástico Bolha”, afinal quem
nunca quis passar uma tarde estourando plástico bolha.
Enfim, trata-se de um disco impecável do começo ao fim, que
traduz muito bem a sua energia. Um som desses para nos encher de esperança de que não está tudo
padronizado nos nossos corações.
PS: para escutar, conhecer, ouvir, sugiro entrar no site dela, de onde se pode baixar ou comprar o disco:
http://www.karinabuhr.com.br/discos
PS: para escutar, conhecer, ouvir, sugiro entrar no site dela, de onde se pode baixar ou comprar o disco:
http://www.karinabuhr.com.br/discos
[1]
Karina BUhr participou de rodas e côco e ciranda em Pernambuco, e integrou
bandas como Eddie, Bonsucesso Samba Clube, Dj Dolores e Orchestra Santa Massa
(com Erasto Vasconcelos e Antônio Nóbrega).
Que maravilha Pablera! Obrigada pelo texto!
ResponderExcluirUm beijo - VIVA 2015!
[A]
Não deixe o blog morreeeer, não deixe o blog acabaaaaaar...
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