Lembro até hoje do dia em que, ainda criança, minha mãe
chegou com um disco Arca de Noé, que mostrava que músicas infantis não precisam
ser bobas, ainda mais interpretadas por cantores do naipe de Ney Matogrosso,
Chico Buarque e Alceu Valença entre outros.
O disco tinha uma capa interativa, daquelas que só os
antigos vinis permitiam. Pelo que me
recordo, uma capa em branco com uma arca desenhada. O restante dos desenhos estava
disposto em um encarte interno para recortar e colar na capa, algo que eu
rapidamente me prontifiquei a fazer. Depois descobri que aquilo era mais uma
criação do mestre Elifas Andreato (sobre os desenhos de Antonio Bandeiras).
Os poemas de A Arca de Noé foram escritos por
Vinicius muitos anos antes de sua primeira edição para seus filhos Suzana e
Pedro de Moraes. Por muitos anos, eles ficaram guardados. Só em 1970, o
conjunto de poemas infantis ganhou o mundo em lançamento na Itália, país onde a
presença do poeta era constante.
É lá, justamente que o disco com os poemas infantis é preparado com o nome L’Arca. No mesmo ano, seus poemas musicados na Itália são lançados em livro no Brasil. Dez anos depois, com arranjos de Rogério Duprat e Toquinho, resolveram transformar o conjunto de belos poemas em disco (resultou em dois discos – embora aqui falarei apenas do primeiro), com o mesmo nome do livro.
“E abre-se a porta da arcaÉ lá, justamente que o disco com os poemas infantis é preparado com o nome L’Arca. No mesmo ano, seus poemas musicados na Itália são lançados em livro no Brasil. Dez anos depois, com arranjos de Rogério Duprat e Toquinho, resolveram transformar o conjunto de belos poemas em disco (resultou em dois discos – embora aqui falarei apenas do primeiro), com o mesmo nome do livro.
Lentamente surgem francas
A alegria e as barbas brancas
Do prudente patriarca”
Após uma abertura orquestrada sob a narração de Chico Buarque, o disco abre de forma grandiloquente, com a canção “Arca de Noé” com a voz de Milton Nascimento trazendo tranquilidade alternando com um coro infantil que acelera no tempo certo. Belíssimo resultado.
Em seguida, lá vem “O Pato” para ver o quê que há, com o
MPB-4. Que nunca se divertiu com a voz do próprio pato nessa canção? Depois vem a coitadinha da “Corujinha” (que feinha que é você) com a brilhante voz da Elis
Regina, em talvez uma das suas últimas gravações antes de falecer,
"Quer ver a foca
Ficar feliz?
É por uma bola
No seu nariz”
O clima circense vem em grande estilo com a voz de Alceu
Valença cantando “A Foca”, outra que se tornou clássica e emenda com o clima
tropicalista de Moraes Moreira cantando “As Abelhas”. Bebel Gilberto canta “As pulgas”, com um ritmo que deve fazer a festa das crianças mais novas. Depois
vem o divertido clima de cabaré com divertidas Frenéticas cantando “Aula de
Piano”.É por uma bola
No seu nariz”
O disco segue com “A Porta” (cantada por Fábio Jr.), “A Casa” (poema que consolidou a expressão rua dos bobos número zero) e “São Francisco”, numa bela interpretação do Ney Matogrosso depois de uma abertura com um coro gótico.
"Com um lindo salto
Leve e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão"
“O Gato” vem com a voz da Marina, canção que vai acelerando também
em ritmo circense, alternando com trechos mais sossegados em arranjo
caprichado. Depois vem o “O Relógio” com a voz de Walter Franco (outro que está
até então ausente desse blog e que merece ser lembrado também).Leve e seguro
O gato passa
Do chão ao muro
Logo mudando
De opinião
Passa de novo
Do muro ao chão"
"Menininha do meu coração
Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha, não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção"
Canção que certamente deve ter servido de inspiração para
tantos pais ninarem suas filhinhas nos anos 80, “Valsa para uma Menininha” serve
para ilustrar bem a bela parceria de Vinícius com Toquinho, que marcou a última
década de vida do primeiro. Eu só quero você
A três palmos do chão
Menininha, não cresça mais não
Fique pequenininha na minha canção"
O disco termina com uma canção final que traz uma espécie de pout-pourri orquestrado de trechos das canções do disco.
Infelizmente pouco depois do lançamento desse belo disco que
mereceu inclusive um especial na Rede Globo, quando planejava o volume 2 desse
disco (lançado em 1981), Vinícius faleceu deixando um imenso e valioso legado.
Enfim, a Arca de Noé tornou-se um dos discos mais populares
de Vinicius de Moraes por trazer o mundo da literatura e das canções para o
público infantil, e de quebra aproveitando também para despertar a criança que
há em cada adulto. Dá até vontade de ter
filhos só para ter pretexto de escuta-lo novamente.
[Paul]
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