Alguns poucos discos de estréia
são definitivos, daqueles que já mostram a que vieram: mostram bandas/artistas
cientes do que querem e seguros sobre como chegar lá e são o ponto alto da
carreira destes mesmos artistas.
Não é o caso do primeiro dos
Titãs. E, cá pra nós: ainda bem. Tinham acabado de abandonar o infeliz nome de
Titãs do Iê-iê-iê, mas não totalmente o som. O baterista ainda era André Jung (hoje no Ira!) e o baixo era dividido entre Paulo Miklos e Nando Reis.
E o que temos aqui? Pelo menos
metade do disco não chamaria a atenção de qualquer um que tenha vivido a época.
Babi Índio, Pule, Mulher Robot, Demais, e Seu Interesse são canções que dificilmente a banda tocaria ao vivo
poucos anos mais tarde, depois de realmente estourar. E dificilmente vão
aparecer em alguma coletânea do gênero “O Melhor de”. Outras receberam um dose
de desfribilador, com versões ao vivo: Marvin
e Querem Meu Sangue (que também deve
um pouco de sua popularidade à versão do Cidade Negra em 1990-e-poucos).
Outras são mania de fãs da banda,
A Balada para John e Yoko por exemplo
eu acho muito boa, uma feliz adaptação para o português feita por Sérgio Britto
desta canção de “segunda” dos Beatles (não, não tô depreciando! Quanta gente
por aí que em 40, 50 anos de carreira não consegue chegar nem perto de uma
canção de “segunda” dos Beatles). Tá certo que a versão original ficou
(inteligentemente) quase intocada, mas tem um arzinho new wave tupiniquim.
O que foi pro rádio e pro
inconsciente coletivo foi Go Back, Toda Cor (essa, juro!, eu sempre esqueço
e, depois que ouço, sempre me lembro de novo...) e a magnífica Sonífera Ilha, que nos enganou a todos
até Cabeça Dinossauro, quando o produtor Liminha conseguiu sabe-se lá como (esta é a impressão que fica a partir desta estréia) desenterrar o potencial agressivo da banda.
O maior mérito deste álbum de
estréia é que eles não desistiram. Fizeram um segundo disco desprezível, onde
se salvava apenas a (ótima! Fantástica!) Televisão
e não desistiram. O primeiro dos Titãs
é um retrato fiel de onde eles estavam na época, um disco honesto. Ouve-se uma
banda experimentando caminhos, Nando Reis
e o reggae (que depois ele abandonaria quando abraçou a carreira solo... ou
estará em período de latência?), parceiros de fora (o ex-membro da banda Ciro Pessoa e Barmack em Sonífera Ilha, Babi Índio e Toda Cor;
Torquato Neto em Go Back), versões em
português (Marvin, Querem Meu Sangue e a já citada Balada). Além do som, o visual e o astral da banda eram outros, sugiro conferir o excelente documentário de Branco Melo, A Vida até PArece uma Festa. A oportunidade de conferir os estreantes nos palcos de Bolinha, Chacrinha, Raul Gil, Fausto Silva (ainda um Perdido na Noite) e Sílvio Santos é impagável.
[M]
Gostei da "dose de desfibrilador".
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