Depois de resenhar um disco de 1965, resgatando a importância
histórica do Sergio Mendes, resolvi dar um salto de quase 50 anos e escrever sobre um
trabalho muito mais recente, mas que certamente também será bem lembrado daqui
a meio século.
Para começo de conversa, Criolo (que até pouco tempo era
Criolo Doido) disponibiliza em seu site oficial o disco para baixar
gratuitamente (www.criolo.net). Ponto positivo, que demonstra que além de estar conectado, sabe –
talvez melhor do que muita gente por ai – que nos tempos atuais mais do que
tentar inutilmente criar mecanismos para dificultar o download de suas músicas,
o mais importante é utilizar de forma positiva as mídias atuais para divulgar o
trabalho. E funciona, além de demonstrar, mais uma vez, uma postura simpática
perante o público. Só que obviamente o fato de ter respostas inteligentes e
postura simpática perante o público não seria suficiente para ser incluído
nesse blog se tivesse algum disco realmente digno de nota.
Com a carreira mais fortemente fixada no rap desde 1989,
nesse seu último disco (o segundo de estúdio) ele optou por misturar gêneros,
estilos e instrumentos de forma muito inteligente e, certamente, isso
contribuiu para que tivesse maior reconhecimento.
O disco inicia-se com “Bogotá”, uma inteligente letra com um
estilo de dificílima definição, levada ao som de trompete e saxes. Gosto disso.
“Subirusdoistiozin", a seguinte, tem uma pegada mais próxima às suas
raízes e já tinha sido lançada anteriormente como single, sendo uma das mais
conhecidas, pelo menos para mim.
Pausa para uma balada triste em “Não existe amor em SP”, um
retrato belo da sua própria cidade, paradoxalmente dona de uma efervescência
cultural e triste impessoalidade, retratada tão bem na letra dessa canção.
A mudança de ritmos e estilos continua em “Mariô”, com uma
pegada que lembra sons de umbanda com uma crítica social. Me perdoem os que
conhecem aspectos de umbanda se falei besteira aqui, mas foi apenas uma
referência sem nenhum rigor científico implícito nessa definição.
“Freguês da meia-noite” é quase um tango com todo o drama
inerente ao estilo, que tem a cidade de São Paulo como palco. Como se não
bastasse ser uma bela canção, tem um clipe excelente, muito bem feito (com
qualidade HD) que vale a pena ver e ouvir no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=cAT8lM0gVQk.
Nova reviravolta com “Grajauex”, som em que suas raízes do
rap retornam com toda força. Até mesmo eu que não sou muito desse estilo,
gostei dessa. Já o histórico de letras engajadas que combatem as desigualdades
está bem presente nas duas seguintes: “Samba Sambei” e “Sucrilhos”.
E se fosse pra ter medo dessa estrada... Eu não estaria há tanto tempo nessa caminhada...
Artista independente leva no peito a responsa, tiozão... E não vem dizer que não
A penúltima música começa com um som de violino e viola para
entrar com uma letra forte e autobiográfica. A mistura de estilos ao longo do
disco se faz presente em uma só canção em “Lion Man”, um rap que conta com uma
sonoridade ímpar, sem perder a seu engajamento. Sensacional.
O nó da tua orelha ainda dói em mim... E Cebolinha
mandou avisar... Quando a "fleguesa" chegar...Muitos
pãezinhos há de degustar...O disco finaliza com um samba muito bem humorado e
inteligente em “Linha de Frente”, trazendo a turma da Monica (aquela mesmo, do
Maurício do Souza) para a rotina da periferia de São Paulo. Sensacional.
Enfim, confesso que demorei para conhecer o trabalho do
Criolo, já que o rap não é muito a minha praia (apesar de respeitar o estilo).
Só resolvi parar e dar atenção ao seu som quando vi, em rede social, trecho de
uma entrevista dele em que dá uma resposta excelente a uma brincadeira infeliz
de fundo homofóbico do apresentador de um programa(que prefiro nem citar porque
o objetivo aqui não é criar polêmica). Então, deixei o preconceito com o rap de
lado, escutei suas músicas e gostei tanto que virei fã. Como diria o Criolo, “Não precisa morrer pra ver Deus... Não
precisa sofrer pra saber o que é melhor pra você”.
Paul
Paul
Esse criolo ai dizem que eh bom, neh? Vou escutar.
ResponderExcluir"paradoxalmente dona de uma efervescência cultural e triste impessoalidade", acertou na veia...no angulo, lá onde a coruja dorme. Bom mesmo!
ResponderExcluirTb nunca me emocionei com o rap. Mas jóia incluir.
Boa tambem a ressalva no momento ubanda.
assinado: Soteropolitano Zeba, capricorniano(omolú).