Início de ano, voltando
da praia, a ideia é falar sobre a Música Praieira Brasileira, conforme
reportagem da Trip.
E o que vem à cabeça?
Bahia!!! Ah, a Bahia, com mais de 1000 km de praias...
Quando pensei neste
disco, foi pela relação óbvia, porém não explícita como em Caymmi, dos Novos
Baianos com a praia. Nem me toquei que eles também levavam a referência
explícita à Bahia. Além do fato do disco ser referência clássica (número 1 da
lista da Rolling Stone dos 100 melhores álbuns nacionais!!), mesmo isso não
sendo o mais importante, a verdade é que o disco é delicioso. E não só pra
ouvir na praia.
Então como já temos uma
página realmente boa na Wikipedia sobre o disco, com muitos detalhes, história,
ficha técnica e referências (http://pt.wikipedia.org/wiki/Acabou_Chorare),
vamos às impressões emocionais e pessoais...
'Brasil pandeiro' é a única
que não é de autoria do grupo, sendo uma sugestão de João Gilberto de uma música
composta por Assis Valente para Carmem Miranda. Resume o som do grupo: várias
vozes, violão mais bandolim, Brasil mais rock, samba mais moderno...
“Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor (...)
O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Brasil, esquentai vosso pandeiros
Iluminai os terreiros
Que nós queremos sambar”
'Preta pretinha' foi um
dos maiores sucessos, extremamente simples e cativante, sempre cantada por
qualquer plateia de qualquer idade. Solinho malandro de bandolim, violões
bonitos, repetições vocais circulares ancestrais, a música dá impressão que
nunca vai acabar.
Até que enfim chega a
guitarra!!! 'Tinindo trincando' ainda não tem aquele sonzaço, mas tem muita
pressão e mais ainda, dinâmica, vai-se de guitarra solando com muito drive a
uma base leve que deixa a voz aparecer, o que podia se concluir que foi consequência
de ser um casal, Pepeu e Baby. Tem no final um breque/break hard rock Led
Zeppelin Whole lotta love!!
'Swing de Campo Grande' é
bem sambão, com uma carga mística implícita, um rezador que aconselhou que,
quando receberem mau-olhado, virarem 'toco e moita'.
'Acabou chorare', a faixa
título é meio canção de ninar (vem de jeito de falar da Bebel Gilberto que,
morando no México, misturava e criava línguas), muito influenciada pelo mestre
e padrinho, quase bossa nova, mas sem ser. Representa também uma virada pra um
som mais alto astral, em oposição ao excesso de lamento e tristeza da MPB da
época.
'Mistério do planeta' é a
minha preferida, sinuosa e perfeita, violão e letra casadinhos, dinâmica
despertando atenção, começa voz e violão, depois entra banda cheia de elementos
sonoros culminando com um solaço de guitarra, levada bonita que te leva junto.
“Vou mostrando como sou
e vou sendo como posso
Jogando meu corpo no mundo
andando por todos os cantos
e pela lei natural dos encontros
eu deixo e recebo um tanto
e passo aos olhos nus
Vou vestido de luneta
Passado, presente
Participo sendo o mistério do planeta”
'A menina dança' foi regravada pela Marisa Monte numa
versão quase tão boa, tem um vídeo dela até cantando junto com a Baby e
quebrando tudo! Mais uma que começa pequena e cresce em riqueza musical... Sabiam
tudo os hippies que passavam por terroristas...
“Besta é tu' vem de um
exercício musical para iniciantes, mas também é uma representação do tal
desbunde da época, e o pandeirinho cantando alto!
“Por que não viver nesse
mundo se não há outro mundo?”
'Um bilhete para Didi' é
uma instrumental empolgante, o tema passa do cavaquinho pra guitarra!! Ficou
mais conhecida quando a incluíram na trilha do 'Surf adventures'... Tudo a ver
com praia, como queríamos demonstrar.
Termina com uma reprise
editada e menor de 'Preta pretinha' que a gravadora fez para as rádios, sendo
que a versão maior é que foi mais tocada... Desde 1972 a indústria já
demonstrava sua assustadora 'sabedoria'.
(Dão)
Desde que os 40 anos de Woodstock começaram a fazer sentido para mim, quase que instantaneamente “Acabou Chorare” ocupou minha imaginação como a versão brasileira para essa onda hippie de liberdade e de vivenciar as idéias que Woodstock haviam imprimido nas pessoas. Essa idéia de que eram frutos da mesma árvore, aos poucos foi crescendo e se espichando dentro de mim e aí advinha né? Os Novos Baianos se tornaram presença quase que diária em casa…
O grupo foi a tradução tropical do movimento hippie, da música e porque não do jeito de se relacionar com o outro?
“Acabou Chorare” nasceu junto com/e entre crianças numa experiência única e ao mesmo tempo comunitária em Jacarepaguá. No mesmo espaço onde se criavam os filhos, as músicas também eram criadas e imagino que nesse terreno fértil, muitos bons sentimentos, dúvidas e diferenças pintaram; e não consigo deixar de admirar profundamente a coragem e a disponibilidade interna de Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes, Moraes Moreira, Dadi, Galvão, Jorginho, Baixinho, Bolacha e Baby nessa viagem tão singular.
“Acabou Chorare” é música para a vida e para o corpo todo. Ali não faltou delicadeza, ingenuidade, criatividade, talento e muita diversão. Foram únicos porque foram muitos, conectados pelo fio do mesmo sonho.
Tintas fortes de rock’n’roll, samba e percussão, letras peace & love, astral incrivelmente lúdico – a sensação é a de abrir uma janela que engole a tarde com um abraço e de presente, chega a lua na tua mão.
[ANDRÉA]
PS: Para o PQ
Aaquele rapaz da Cor do Som era bonitinho mesmo, não? numa proxima encarnação quero ter o cabelo igual ao dele(ZEBA)
ResponderExcluirDiscussões estéticas à parte, ele toca bagarai. Pra mim esse é o melhor disco do pop/rock/mpb brasileiro. Instrumental do cacete com músicas lindas e interpretações inspiradas e ainda era super inovador. É pra se ouvir e ouvir e ouvir... Já entrei nessa onda, Andréa e hoje, mais ainda, em homenagem ao grande PQ.
ResponderExcluirAbs, LM
Mais uma resenha linda e maravilhosa... Viva a Andréa!
ResponderExcluirZEBA: aquele cabelo bonitinho não é a baby consuelo? Nesse tempo ela era um xuxuzito também...
[M]
Carai, papo esquisito esse de vcs...
ResponderExcluirLM