...nánáná é o diabo!
Assim começa um disco essencial e ao mesmo tempo tosquíssimo do meio da década de 90: RAIMUNDOS!
Numa época em que se alastrava a péssima idéia de cantar em inglês 'pra explorar o mercado internacional' (nem todo mundo tem o talento do Sepultura) e que 'o menos era mais' no rock deprimido grunge (nem todo mundo tem o talento de Kurt Cobain), gravar um disco misturando música nordestina e Ramones, metal e putaria, era no mínimo arriscado ou claramente coisa de doidão. Talvez um pouco dos dois.
Mas havia ousadia no mercado, além de um selo chamado Banguela, além de um alucinado chamado Carlos Eduardo Miranda. Ah, a bênção dos Titãs, padrinhos do selo.
Bom, funcionou, e bem pra caralho.
'Puteiro em João Pessoa', improvável hit, inimaginável pra quem tem mais de 35 anos, tocava nas rádios, 'Palhas do coqueiro' girava na MTV (com a pérola 'não é assim que se fode não').
'Rapante' demonstra, sobre uma base pesadíssima e com letra 'engraçadinha', que o rap e o repente podem ser próximos não só no dicionário. 'Carro forte' segue a idéia da gracinha, depois explorada em álbuns seguintes e bandas como Mamonas, misturando a escatologia adolescente e a idéia equivocada que uma piada funciona sempre. Mas ainda era original, ou parecia pra mim.
'Nega Jurema' fala da erva, tema que se tornou comum na época, além do refrão genial que os Titãs cantavam ao vivo na época: 'cumê cagá vivê fumá são as leis da natureza e ninguém vai poder mudar'. Seguem-se várias boas músicas, inclusive mais um hit radiofônico mais uma vez inesperado, 'Selim', onde 'ser o banquinho da bicicleta' passava a ser um desejo, por motivos óbvios.
Os Titãs participam de várias músicas, cantando e/ou tocando, além do João Gordo, que faz backing vocal em 'MM's'.
Se bem me lembro (e às vezes não lembro bem), 'Be a bá' também foi vídeo na MTV.
Testosterona ('o passarinho tão bonitinho é viadinho' em 'Bicharada'), palavrões e muita energia. Pensando bem, tinha tudo pra funcionar.
Tive a oportunidade de vê-los naquele excelente momento antes do estouro, quando estavam muito bem ensaiados e ainda com muito tesão de tocar ao vivo, antes do lançamento do disco, no festival Monster of Rock de 94. Showzaço, rodas de pogo, moshs perigosos, ficar na frente do palco (péssima idéia de alguns amigos que queriam ver o Kiss - que era o último show, depois de Black sabbath capenga e Slayer fodaço - de perto) equivalia a duas horas de Jiu Jitsu intenso. Sobrevivi e soube que os caras iriam estourar, senão em vendas, os nossos ouvidos.
Depois, talvez influenciados pelo público metal, aprenderam a tocar melhor, lançaram discos melhor gravados e mais pesados (apesar de menos rápidos), mas a graça já não era mais a mesma, e a espontaneidade já tinha endereço certo.
Bem lembrado Dão!!
ResponderExcluirPude vê-los em 93 ou 94 no Festival Junta Tribo que ocorria dentro do campus universitário da Unicamp, também momentos antes da fama, quando a moda era a molecada subir no palco e se jogar na platéia (ou serem arremessados por seguranças) enquanto o show rolava.