Capixaba de Cachoeiro do
Itapemirim, tal como Roberto Carlos, chegou no Rio de Janeiro em 1967 para dar
início a sua carreira artística, a começar com trabalhos em rádios como locutor.
Após um início repleto de dificuldades e vivendo intensamente as noites
cariocas, conheceu Raul Seixas, quando este era produtor da CBS, e gravaram juntos
A Sociedade da Grã-Ordem Cavernista apresenta Sessão das 10 (disco que também merece uma resenha nesse blog), em companhia de
Edy Star e Míriam Batucada em 1971, inspirado por Freak Out (1966), de Frank Zappa e Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.
Em 1972, sua carreira finalmente parecia
que iria decolar quando apresentou-se no VII Festival Internacional da Canção com
a marcha-rancho “Eu Quero é Botar meu Bloco na Rua”. Apesar de não ganhar o
festival, foi um imenso sucesso popular, servindo como carro-chefe para que o
disco das melhores canções do VII FIC chegasse a 500 mil cópias vendidas. Parte
do seu sucesso pode ser atribuída ao fato de sua letra simbolizar tão bem um
sentimento coletivo na época do auge da repressão imposta pelo regime militar
no Brasil.
No ano seguinte, catapultado pelo
sucesso dessa música, assinou com a Philips/Polygram para gravar um disco com
esse mesmo nome. Segundo André Midani, presidente da gravadora na época, Sérgio
Sampaio chegou à gravadora como um artista completo[1].
Produzido por ninguém menos que Raul
Seixas, acompanhado ainda por músicos como José Roberto Bertrami, Alexandre
Malheiros, Ivan Conti, Renato Piau e Wilson das Neves, o disco inicia-se com a
criativa “Leros, Leros e Boleros”, cujo ritmo faz mesmo menção a um bom bolero
e segue com a ótima “Filme de Terror”, que inspirou um criativo vídeo de Antonio
Celso Barbieri (https://www.youtube.com/watch?v=M2RjMh17CVk).
Em seu conjunto, o vinil
apresenta algumas canções mais autorais (“Pobre meu Pai”, “Eu sou aquele que
disse”), outras mais melódicas (“Não tenha medo não”) e por fim algumas com uma
batida mais ritmada como “Labirintos Negros”.
Destaca-se ainda a ótima “Cala a
boca Zebedeu”, composta por seu pai, Raul Sampaio, maestro de uma banda em sua
cidade natal; a bela letra de “Viajei de Trem”, que conta com a participação de
Raul Seixas; e o animado samba “Odete” (não
é vivendo que se aprende, Odete... mas é vivendo que se aprende a viver),
em que cita trechos de “Que Maravilha” de Jorge Ben.
O disco culmina de maneira
apoteótica com “Eu quero é Botar meu Bloco na Rua”, a sua mais conhecida e tantas vezes regravada, e finaliza com “Raulzito Seixas”, uma espécie
de homenagem ao seu parceiro que o ajudou no início. Para escutar o disco mais
facilmente para quem não conhece, recomendo acessar: https://www.youtube.com/watch?v=etf6oyZmS-A
Apesar de músicas como Cala a
boca, Zebedeu", "Odete" e "Viajei de trem" terem
tocado nas rádios, infelizmente as vendas decepcionaram (estima-se em 5 mil
cópias). Nessa época, Sérgio Sampaio já era muito conhecido pelo seu
comportamento inquieto, um artista fora do sistema, considerado para muitos como o maldito da MPB.
Como diria Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, com seu porte magérrimo, seu cabelão comprido e seu comportamento
bizarro, sempre bebendo, cantando ou gargalhando com espalhafato, ele jamais
poderia passar despercebido ao mais distraído habitué de bares da zona sul
carioca[2].
Nos anos 1970 e início dos 1980 teve
ainda dois discos lançados (o último de forma independente) e acabou atravessando
a maior parte da década de 1980 esquecido, embora compondo canções cada vez
mais aprimoradas.
Tentou retomar a carreira nos anos
1990 mas morreu antes de finalizar seu novo trabalho, “Cruel, que acabou sendo
posteriormente produzido e lançado por Zeca Baleiro em 2006. Em termos de
melodias e qualidade das canções, pode-se afirmar que o resultado desse último
trabalho supera o aqui citado, mas optei por começar com esse pela sua
importância histórica com o intuito mais de falar do artista do que do disco em
si.
Embora sua importância para a
música brasileira tenha sido relegada a segundo plano durante muito tempo, felizmente
nos últimos anos trabalhos como a sua biografia escrita por Rodrigo Moreira; regravações
interpretadas por cantores como Zeca Baleiro e Elba Ramalho; ou ainda o documentário
"Cabine 103", de Julia Bosco (filha de João Bosco), Gustavo Macacko e
Juliano Rabujah, com direção de Chico Regueira e Inês Garçoni (https://www.youtube.com/watch?v=yAS3nrLn8_U)
tem contribuído para o justo resgate de sua memória.
Depois de tanto tempo vivendo no ostracismo
e após sua morte quase no esquecimento, nos damos conta da falta que nos faz
artistas que como ele que contestam o sistema e que, fundamentalmente, vivem
com intensidade. De acordo com Sérgio Natureza, seu parceiro em diversas
canções e autor do prefácio do livro de Rodrigo Moreira, Sérgio Sampaio foi o
verdadeiro "Garrincha da MPB" devido à postura rebelde e não
enquadrada que sempre norteou sua vida. Tal como o eterno camisa 7, Sérgio
Sampaio morreu abandonado, mas nos deixou um belo legado.[3]
[Paul]
[Paul]
[1]
MIDANI, André. Mùsica, Ídolos e Poder – do vinil ao download, Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2008.
[2]
SEVERIANO, Jairo e HOMEM DE MELLO, Zuza, A Canção no Tempo – 85 anos de músicas
brasileiras, São Paulo: Editora 34, 2006 (5ª. Edição).
[3]
Parte das informações que constam aqui é de Bruno Ribeiro, no site: http://www.samba-choro.com.br/artistas/sergiosampaio,
obtido em 22 de fevereiro de 2015.
Sérgio vc foi o melhor... vc atravessa gerações, obg bendito!
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