“Pérolas aos poucos” rouba a gente pelo feixe de Hiss: aquele delicado sistema elétrico do coração que nosso corpo utiliza de tomada, entre outras coisas, para nos plugar às coisas bonitas da vida. A conexão aqui é pelo coração e não pelo cérebro. É amor e não razão.
“Pérolas aos poucos” entra pela tua esquina, em frases cristalinas – efeito circular que te envolve na roda. São enlaces sonoros, a voz, o piano, as rimas, as não rimas, a dor, o tempo e a cura. E tudo termina numa concha de cor escura, onde o sol se despede.
Tudo é macio, suave, música que pede calma, que te toma pela mão. A cadência das frases, as palavras cantofaladas, as vírgulas, o canto é alegre, de alma viva. Se a gente pudesse ver o som, “Pérolas aos poucos” teria os olhos brilhantes e curiosos.
É também um cd em que cabe o mundo – que se estica entre o campo e a cidade. Há a magia da escuridão em “Anoitecer”, a hora de se a ver com a verdade, que parece estar lá fora, mas não, ela está lá dentro, dentro da gente. Dessa hora tenho medo.
Adoro a “Tempo sem Tempo”! Gosto porque celebra o encontro. O verdadeiro – com todos os ingredientes. Comemora o desejo, o pedido e o risco. O risco das feridas e das despedidas. Mas ora! Só há despedidas depois dos encontros…
Arco-íris que espalha cristais sexuais! Delícia total.
“Sem Receita” – Música de amor temperável e comestível, como mesmo deve ser o melhor amor. E a lembrança é aquela hora em que a gente lambe os lábios com saudades de tudo o que rolou. Porque amor não tem receita, é inédito a cada vez!
O “Pérolas aos poucos” é todo gracioso! Com uma malandragem aqui e outra ali, o disco é cheio de pequenos prazeres escondidos no tom da voz de Zé Miguel, nas parcerias, nas percussões e nas palmas. “Presente” é aquela que só é realmente sentida depois que teus pés entram no compasso e levam teu corpo inteiro ao movimento. Gozo sem fundo.
“Perólas aos poucos” é a certeza de que no amor não há nem nunca haverá culpado. Sem palavras.
[ANDRÉA]
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