quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Vagarosamente... Céu (2009)

Diferente daquele disco azul, o paradisíaco Céu de 2004, ela agora vem em tons de vermelho, Vagarosa. As cores da capa parecem contradizer este título e a audição do disco comprova (bem) mais o segundo que as primeiras.


Diferente do que costumo fazer para este blogue, este texto se baseia em apenas duas audições do disco, e preferi assim, pra não ser tentado a esmiuçá-lo demais, deixando ainda um gostinho pra quem está lendo e perdendo seu tempo que ainda não foi correndo comprar ou baixar oVagarosa. Na primeira, ajudando na cozinha do sábado, com a atenção dividida entre três crianças, um playstation, pia, fogão e outras coisas do dia-a-dia, eu não entendi, nem gostei do disco.


Só na segunda entendi: a Céu quer a sua intimidade. Intimidade e comprometimento do ouvinte. Vagarosa não é disco de acompanhamento de outras atividades, e ontem à noite ele foi a minha atividade. E é assim que ela é melhor sorvida, vagarosa, Céu toma conta de você, na intimidade, essa é a grande novidade neste seu trabalho de 2009.


Alguma coisa do trabalho anterior ainda está aqui, a mistura da tradição, do cavaquinho, do samba, com os loops, scratches e muita coisa ligada na tomada. Mas ainda assim, o disco vai mais longe e mais fundo onde o anterior tinha apenas roçado. As letras são curtas, rápidas e diretas, com preguiça de se alongar no(s) assuntos(s), ela dá o recado com poucas palavras. De propósito o disco abre com som de agulha percorrendo os sulcos do vinil, que funciona quase como uma vinheta, separando as músicas. O que poderia sugerir uma referência ao antigo, muito antigo, logo é demolido da segunda faixa em diante: Fiz minha casa no teu cangote, ela judia de quem ousa procura-la ao redor do pescoço.


Beto Villares é, de novo, parceiro de algumas composições, instrumentos e divide a produção com a própria, e mais dois cúmplices. E essa produção a oito mãos funciona bem demais! A instrumentação também está bem interessante, reúne uma pá de teclados vintage: mellotron, fender rhodes, moog... E ainda assim, o disco aponta para o futuro e não para o passado. Ás vezes parece que estamos diante de uma mistura da vanguarda paulistana (que foi vanguarda na década de 80) com massive attack e um sambinha de sombra de quintal... E muitas vezes, a impressão é que estamos diante dela, Céu, todinha ela, do jeito que quer e gosta.


O disco é todo maravilhoso, e tem participações pra lá de especiais, Luiz Melodia, Gigante Brasil (que tocou com Itamar Assumpção) e Los Sebozos Postizos (codinome de uma mistura entre pedaços da Nação Zumbi e do Mundo Livre S/A), que ajudam na levada (surpreendente) de Rosa Menina Rosa, de Jorge Ben, única composição revisitada aqui. Como num bom vinho tinto (essa deve ser a cor da capa!), Céu vem vagarosa e fica muito à vontade. A gente se espreguiça. E agradece.


[M]

3 comentários:

  1. acho que a céu carrega um enorme bob marley dentro dela... essa é a sensação que me dá depois de ouvir vagarosa. o cd tá realmente um arraso! bela escolha méteus!
    [ANDRÉA]

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  2. é verdade, eu esqueci deste lado reggae dela na resenha, muito bem lembrado. Neste disco, isso é mais discreto, mas tá ali sim... [M]

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  3. Mateus, queridos, estou adorando o blog, não sabia disso! Estou matando muitas saudades, mas me ajudem não consigo fazer o computador tocar as músicas :-)... preciso de ajuda!

    muitos beijos,
    gra

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