Foi escutando música no Spotify
que descobri essa trupe. Acho que foi quando escutava Bárbara Eugênia ou algum músico contemporâneo que reparei com certa
curiosidade, entre os artistas relacionados, um nome no mínimo curioso: "Trupe Chá de Boldo”. Resolvi matar minha curiosidade e me surpreendi com um som bem
original, animado, com letras criativas e um gingado gostoso de ouvir,
tudo isso com sob influência da boa e velha vanguarda paulistana, mas com uma roupagem mais atual.
Passei a escutar com frequência cada
vez maior até que tive a oportunidade de vê-los ao vivo
há pouco tempo no aconchegante Teatro Paiol de Curitiba (uma espécie de La
Bombonera local, como eles mesmos citaram). Foi um show memorável de uma trupe
de 11 músicos (no disco em questão são 12). Poderia ser um time de futebol, mas
é uma banda! E que banda!
No final do show, pude conhecer
rapidamente alguns de seus integrantes e comprar seus dois CDs (devidamente
autografados por um deles): o mais recente (Presente) e o primeiro (Nave
Manha), de 2012, selecionado para ingressar o rol dos 1001 discos brasileiros para escutar antes de morrer.
Encarte do CD, com ilustração de Laura Teixeira |
Produzido por Gustavo Ruiz (irmão da Tulipa Ruiz) e contando com uma bela ilustração de Laura
Teixeira, Nave Manha inicia “No Escuro”, música de autoria de Gustavo Galo
(responsável pela voz dessa música). Trata-se de uma espécie de bossa com som que remete a Tom Zé, tendo a
cidade de São Paulo como cenário. Começou muito bem!
Saindo da Estação da Luz (citada
em “No Escuro”) para o rush no Minhocão, a segunda é outra preciosidade bem-humorada
e repleta de duplo sentido: “A Rolinha e o Minhocão”. A música começa com uma
linha de baixo interessante. No YouTube, tem um clipe dessa música muito
original, gravado dentro do carro percorrendo as ruas de Sampa (chegando até o
Minhocão, obviamente). Vale a pena checar: https://www.youtube.com/watch?v=k8ClQ9LOP1IDepois de “Se For Parar” (com a participação, entre outras, de Alzira E), vem “Apesar”, uma baladinha gostosa de ouvir que termina com “então me leve para longe daqui”. No caso do disco, para “Belém Berlin”, a canção seguinte que conta com a participação de André Abujamra e Gustavo Ruiz: me leve meu bem pra Belém pra Berlin.
A seguir vem a agradável “Box 11”, outra repleta de referências paulistanas que, segundo informações do encarte, aborda um homem solitário que se depara um outro apaixonado fazendo uma serenata para recuperar o seu amor. Após essa, o disco atinge o clímax:
Não quero gota
Não quero gota
Quero você gostoso todo
Na garrafa
Não quero gota
Eu quero o gosto
De te tomar inteiro
Pra ver se chapa
“Na Garrafa”, é a melhor do disco
e apresenta todas as características de um ótimo hit: letra sensacional, batida
animada, vocais entusiasmados. Um clássico. A versão que tem no disco já é
excelente e dá vontade de sair dançando, mas ao vivo consegue melhorar ainda
mais, com uma performance empolgante, principalmente com a vocalista Julia
Valiengo e do Cabelo na guitarra. Auge do disco e do show. Vale a pena ver
também o clipe muito bem produzido dessa música: https://www.youtube.com/watch?v=sBG0k8k7hLU. Além disso,
essa canção fez parte do disco “Rolê, News Sounds of Brazil”, lançado em 2014.
As duas seguintes parecem estarem
propositalmente nessa ordem: primeiro “Mar Morro”, (outra das minhas preferidas)
que relata a descida para o litoral para, em seguida, com uma levada caribenha,
vem a canção “Verão”.
“Splix”, a próxima, é uma
composição conjunta do Galo com a Ciça (outra vocalista) e Peri Pane, que
juntamente com Tatá Aeroplano, participam da sua gravação. Novamente diversão
garantida!
(...) Pra você que transforma
Rímel em rima
Fuga em fogo
Rímel em rima
Fuga em fogo
Pra você que transforma
Linha em lenha
Careta em carinho (...)
Careta em carinho (...)
Com disco bem produzido, esse time
demonstra que é uma verdadeira seleção, com som equilibrado desde as linhas de
baixo do Felipe Botelho bem articuladas com a bateria e a percussão de Gongom e
Rafinha, acompanhado de bons metais de Mumu e Remi, guitarras afinadas de
Bastos e Cabelo, tendo como a cereja do bolo os vocais do Galo, Ciça, Julia e
Leila, além de músicos como Rayraí e outros convidados. Talvez eu tenha até
errado a referência a algum deles, mas a intenção era citar todos.
O show que tive a oportunidade de
presenciar foi espetacular. Espero que não demorem mais 10 anos para retornar
(foi o primeiro deles aqui). Além do ótimo som, destaca-se ainda a postura
politizada e bem esclarecida, algo fundamental nesse momento em que a
democracia tem sido violentada nesse país. Vida longa para essa trupe!
Paul
Muito bom, Pablera!
ResponderExcluirUm beijo