quinta-feira, 21 de abril de 2016

"Nave Manha", Trupe Chá de Boldo


Foi escutando música no Spotify que descobri essa trupe. Acho que foi quando escutava Bárbara Eugênia ou algum músico contemporâneo que reparei com certa curiosidade, entre os artistas relacionados, um nome no mínimo curioso: "Trupe Chá de Boldo”. Resolvi matar minha curiosidade e me surpreendi com um som bem original, animado,  com letras criativas e um gingado gostoso de ouvir, tudo isso com sob influência da boa e velha vanguarda paulistana, mas com uma roupagem mais atual.
Passei a escutar com frequência cada vez maior até que tive a oportunidade de vê-los ao vivo há pouco tempo no aconchegante Teatro Paiol de Curitiba (uma espécie de La Bombonera local, como eles mesmos citaram). Foi um show memorável de uma trupe de 11 músicos (no disco em questão são 12). Poderia ser um time de futebol, mas é uma banda! E que banda!

No final do show, pude conhecer rapidamente alguns de seus integrantes e comprar seus dois CDs (devidamente autografados por um deles): o mais recente (Presente) e o primeiro (Nave Manha), de 2012, selecionado para ingressar o rol dos 1001 discos brasileiros para escutar antes de morrer.
Encarte do CD, com ilustração de Laura Teixeira
Produzido por Gustavo Ruiz (irmão da Tulipa Ruiz) e contando com uma bela ilustração de Laura Teixeira, Nave Manha inicia “No Escuro”, música de autoria de Gustavo Galo (responsável pela voz dessa música). Trata-se de uma espécie de bossa com som que remete a Tom Zé, tendo a cidade de São Paulo como cenário. Começou muito bem!
Saindo da Estação da Luz (citada em “No Escuro”) para o rush no Minhocão, a segunda é outra preciosidade bem-humorada e repleta de duplo sentido: “A Rolinha e o Minhocão”. A música começa com uma linha de baixo interessante. No YouTube, tem um clipe dessa música muito original, gravado dentro do carro percorrendo as ruas de Sampa (chegando até o Minhocão, obviamente). Vale a pena checar: https://www.youtube.com/watch?v=k8ClQ9LOP1I

Depois de “Se For Parar” (com a participação, entre outras, de Alzira E), vem “Apesar”, uma baladinha gostosa de ouvir que termina com “então me leve para longe daqui”. No caso do disco, para “Belém Berlin”, a canção seguinte que conta com a participação de André Abujamra e Gustavo Ruiz: me leve meu bem pra Belém pra Berlin. 

A seguir vem a agradável “Box 11”, outra repleta de referências paulistanas que, segundo informações do encarte, aborda  um homem solitário que se depara um outro apaixonado fazendo uma serenata para recuperar o seu amor. Após essa, o disco atinge o clímax:

Não quero gota
Não quero gota
Quero você gostoso todo
Na garrafa
Não quero gota
Eu quero o gosto
De te tomar inteiro
Pra ver se chapa

“Na Garrafa”, é a melhor do disco e apresenta todas as características de um ótimo hit: letra sensacional, batida animada, vocais entusiasmados. Um clássico. A versão que tem no disco já é excelente e dá vontade de sair dançando, mas ao vivo consegue melhorar ainda mais, com uma performance empolgante, principalmente com a vocalista Julia Valiengo e do Cabelo na guitarra. Auge do disco e do show. Vale a pena ver também o clipe muito bem produzido dessa música: https://www.youtube.com/watch?v=sBG0k8k7hLUAlém disso, essa canção fez parte do disco “Rolê, News Sounds of Brazil”, lançado em 2014.

As duas seguintes parecem estarem propositalmente nessa ordem: primeiro “Mar Morro”, (outra das minhas preferidas) que relata a descida para o litoral para, em seguida, com uma levada caribenha, vem a canção “Verão”.

“Splix”, a próxima, é uma composição conjunta do Galo com a Ciça (outra vocalista) e Peri Pane, que juntamente com Tatá Aeroplano, participam da sua gravação. Novamente diversão garantida!

(...) Pra você que transforma
Rímel em rima
Fuga em fogo
Pra você que transforma
Linha em lenha
Careta em carinho (...)


Para fechar o disco em alto estilo, “Até Chegar no Mar”. Música mais suave com uma letra lindíssima.

Com disco bem produzido, esse time demonstra que é uma verdadeira seleção, com som equilibrado desde as linhas de baixo do Felipe Botelho bem articuladas com a bateria e a percussão de Gongom e Rafinha, acompanhado de bons metais de Mumu e Remi, guitarras afinadas de Bastos e Cabelo, tendo como a cereja do bolo os vocais do Galo, Ciça, Julia e Leila, além de músicos como Rayraí e outros convidados. Talvez eu tenha até errado a referência a algum deles, mas a intenção era citar todos.
O show que tive a oportunidade de presenciar foi espetacular. Espero que não demorem mais 10 anos para retornar (foi o primeiro deles aqui). Além do ótimo som, destaca-se ainda a postura politizada e bem esclarecida, algo fundamental nesse momento em que a democracia tem sido violentada nesse país. Vida longa para essa trupe!

 Paul

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