Mas voltando, o que foi pouco comentado foi a parte instrumental da
trilha sonora, composta por Antonio Pinto (já comentado aqui no disco Pequeno
Cidadão) e Ed Cortes. Verdadeiro tratado e síntese do funk brasileiro. Mas
não o carioca, falo daquele criado por James Brown e que por aqui foi
devidamente adaptado e misturado, gerando música de altíssima qualidade,
inclusive pelo já citado Tim, que é influência, claro. Assim como a Black Rio.
E Jorge, claro, num violãozinho ali no meio de Funk da Virada. Parece que
quiseram homenagear seus heróis, mas de maneira sutil.
A trilha começa literalmente com porradas, socos na porta e o
clássico diálogo pulpfictioniano: Quem é, quem é? (...) Quem falou que a boca é
sua, rapá? (...) Colé Dadinho? Dadinho é
o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, porra! E atacam os metais.
Não vou descrever as músicas, não, essa é mais a onda de Dão, mas a
sequência instrumental começa com as três primeiras (Meu nome é Zé Pequeno,
Vida de otário e Funk da virada), perfeitamente mixadas, prontas pra botar numa
festa. São curtinhas, dá 5m30 no total.
A quarta música, Estória da Boca, é mais lenta, cuiquinha pontuando, clima de
samba, combina com a sexta, A Transa, mais lenta ainda, que o nome já diz, é cheia
de suingue e bem sensual.
Daí, pule pra 13a
e 14a, Morte de Zé Pequeno (sacanagem, já conta o
final o filme) e Batucada Remix, uma versão eletrônica de todas elas juntas,
mixadas pelos DJs Camilo Rocha e Yah.
Nunca ouvi ninguém falar, mas dá pra perceber influências em muita
coisa que foi feita dali em diante, o Drum‘n’Bass brasileiro sendo um. Certamente
influenciou também o Bixiga 70, que terá seu disco de 2011 comentado aqui, e
que desde já recomendo fortemente. Mais recentemente, Antonio Pinto participou,
tocando baixo, compondo e arranjando, do Almaz, banda com Lucio Maia na
guitarra, Pupilo na batera e Seu Jorge nos vocais, que atualizou a bossa-nova,
incorporando psicodelia, peso e guitarras, e que também vai aparecer por aqui.
O clima geral é retrô, mas Pinto e Cortes foram muito além.
Atualizaram os anos 70, juntaram um monte de groove e timbre antigo com umas
batidas mais novas e mostraram que a caravana passa. E passa bem.
[LM]
[LM]
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