4 parece ter sido seu disco de despedida (provisoriamente definitivo). E tem ares mesmo de missa de Réquiem:
É de lágrima que eu faço o mar pra navegar...
Canta o Marcelo Camelo na última faixa (É de Lágrima). Isso deve ser mesmo uma das frases mais triste de toda a música brasileira... E o disco todo é assim. A capa em tons de rabecão, as vozes cansadas, o ritmo arrastado...
O mar é tema. Mas nada de dia de luz, festa do sol, barquinhos a deslizar, peixinhos e beijinhos e outras frescuras. Aqui a coisa está mais pra Hemingway do que pra João Gilberto. Se termina em mar, assim começa também o disco. Em Dois Barcos o verso inicia-se...
Quem bater primeiro a dobra do mar / dá de lá bandeira qualquer / aponta pra fé... e rema
E adiante, o que parece ser a chave deste 4. Los Hermanos olham para o mar, e não para a areia. E o mar é solidão, é tristeza e medo do desconhecido:
Fez-se mar, senhora, o meu penar / Demora não, demora não / Vai ver o acaso entregou alguém pra lhe dizer / O que qualquer dirá...
Rodrigo Amarante também acompanha a onda do mar de Camelo, e traz do mar o parceiro, o Vento:
Posso ouvir o vento passar / Assistir à onda bater / Mas o estrago que faz / A vida é curta para dizer
E também dele é o melhor momento deste disco, Condicional. Num ritmo de baile de quermesse (ou marchinha, como prefere a banda), a melodia é cantada como uma partida de tênis, num bate e volta emendando o fim de um verso com o começo do próximo, deixando o miolo suspenso no ar...
Quis nunca te perder / Tanto que demais / Via em tudo o céu / Fiz de tudo o cais / Dei-te pra ancorar / Doces deletérios
Eu quis ter os pés no chão / Tanto eu abri mão / Que hoje eu entendi / Sonho não se dá / É botão de flor / O sabor de fel / É de cortar.
Eu sei é um doce te amar / O amargo é querer-te pra mim / O que eu preciso é lembrar, me ver / Antes de te ter e de ser teu, muito bem
Em seu quarto disco, que poderia muito bem se chamar (a)mar, Los Hermanos aprofundam a melancolia que já assolava os trabalhos anteriores. Fazendo lembrar que a alegria é um estado interior e que, mesmo em condições exteriores ideais, às vezes ela não bate.
Os dias que eu me vejo só / São dias que eu me encontro mais / E mesmo assim eu sei tão bem / existe alguém pra me libertar
Finaliza o Amarante esta belíssima canção. Mesmo na cidade maravilhosa, quente e ensolarada, dá pra ficar solitário e triste de vez em quando. Mas há de passar, viu? Depois da tormenta vem a calmaria, e, no mais
a gente quer ver...
o horizonte distante!
[M]
sua melhor resenha! linda.
ResponderExcluir[ANDRÉA]