"Sentinela" parece que veio ao mundo para celebrar a amizade. Sentinela, palavra feminina, é também o ato de preservar e de guardar - e tenho me dado conta cada vez mais que a música aperta o nó da amizade, preservando e guardando o vínculo aos que gosto. Uma onda amorosa que vai enlaçando suavemente um a um – sempre na melhor vibração.
Ganhei "Sentinela" ainda em vinil, quando terá sido isso? Sei lá, em 1984, 85? Já não me recordo mais... Mas me lembro de ter encontrado o LP na porta da frente da minha casa, encostadinho me esperando - e vinha com um bilhete escrito numa folha de caderno. Foi meu primeiro presente-musical vindo de um amigo.
Na época Caetano e Milton transitavam pelos meus ouvidos. Eram como duas ondas de rádios diferentes e elas conviviam muito bem dentro de mim. A música tem isso de nos transformar em mil – o tempo passa e cada vez mais novos canais vão se adicionando e se aninhando aos que já estão lá e todos se encaixam muito bem dentro da gente.
"Sentinela" é um disco que inspira sentimentos delicados. Com sua voz zen, Milton Nascimento vai virando as páginas do seu livro de estória musical e enreda a força da natureza com a força do homem, tentando entender esses dois mundos que se encontram inevitavelmente. Canta a solidão, a guerra, mas canta também o encontro, a comunhão. "Sentinela" aposta na irmandade, nos homens diários e nas suas minúsculas e imprenscidíveis lutas.
"Sentinela" zela pelo ser humano. É o otimismo sozinho na plataforma, esperando a fumaça e ouvindo o apito do trem.
"Sentinela" tem uma coisa única e por isso, especial: a cena musical leva minha imaginação para um lugar singelo, de poucas coisas, mas de muito sentir. É a magia da escassez.
Todas as músicas são como um sino de um mosteiro: te tocam fundo, duram dentro de você. E me lembro da surpresa que tive com a fala distante e inesperada de Leila Diniz dizendo:
"Brigam Espanha e Holanda
pelos direitos do mar
o mar é das gaivotas
que nele sabem voar
Brigam Espanha e Holanda
pelos direitos do mar
Brigam Espanha e Holanda
porque não sabem que o mar
é de quem o sabe amar"
Sentinela: Ah! Sol e chuva na sua estrada. Mas não importa não faz mal. Você ainda pensa e é melhor do que nada. Tudo que você consegue ser ou nada.
[ANDRÉA]
Este é um não-comentário: sem palavras!
ResponderExcluir"a magia da escassez"...
[M]
Com essa música citada, Milton e Leila Diniz previram a final da Copa de 2010...haha
ResponderExcluirMuito bem lembrado, Déa!
[Paul]
Me emocionei hoje duas vezes: a primeira ouvindo o tão profundo disco Sentinela, a segunda com seu texto. Obrigada pela definição sensível. Um beijo, Talita
ResponderExcluirResenha ótima pra quem já conhece o disco.Sentinela no nordeste é velório né?
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