terça-feira, 27 de novembro de 2012

Bloco Vomit - Never mind the bossa nova


Prosseguindo na bizarrice...
Agora justificado pelo fator 'como', no caso a formação e sonoridade carnavalesca.

O Bloco Vomit é formado por punks escoceses que vieram estudar percussão brasileira e nesta roupagem gravaram esse álbum com músicas punk.
Que é de 1997 ou de 1998, dependendo da fonte...

Eu poderia dizer de qual banda é cada música, mas isso pode ser lido aqui (em inglês, of course, my horse):
http://www.blocovomit.com/record/songs1.php

Mais informação sobre o samba punk (!!!):
http://www.terra.com.br/istoegente/42/divearte/musica_vomit.htm
http://euovo.blogspot.com.br/2009/03/que-diabo-e-samba-punk.html

O maneiro é que as músicas não perderam a pressão punk, à qual foi adicionada uma pitada de maracatu e um naipe de metais/sopros (trompete e saxofone) típica de bandas de frevo ou blocos de carnaval.

Algumas músicas tem uma cara reggae, ou melhor samba reggae ao estilo Olodum, como é o caso de 'Police and thieves', que foi conhecida pela gravação do Clash, mas na verdade é originalmente reggae e cujo autor é Junior Murvin. 'Love lies limp' também entra nessa área, mas é bem zoneada  confusa, até o solo de sax é outside...

Então aqui vão as músicas (sem comentários individuais, agora é sério, Baiano!!):

1. Do they owe us a living?
2. Jilted John
3. Teenage kicks
4. Police and thieves
5. Pretty vacant
6. Metal postcard (Mitageisen)
7. Oh bondage, up yours!
8. Love lies limp
9. Gambinda nova
10. Should I stay or should I go?
11. Roadrunner
12. D.T.'s in droichead (que é só uma batucadinha final)

O disco é dedicado a Chico Science. Daí o maracatu tradicional 'Gambinda nova' ter uma cara totalmente manguebeat.

Por hoje é só, pessoal, em breve retornamos com a saga de álbuns solo...

(Dão)

domingo, 25 de novembro de 2012

Cazuza - Burguesia, ou melhor, o último disco de nossas vidas


Se por um lado Sonífera Ilha, o primeiro disco dos Titãs, teve como mérito o fato de que sua pouca inspiração não tenha sido suficiente para que aquele ótimo grupo desistisse da carreira (como foi resenhado nesse blog), de forma invertida, algo semelhante aplica-se ao último trabalho do Cazuza: Burguesia, que se insere nessa lista não por sua excelência, mas por um contexto maior. 

Com a voz notadamente debilitada, decorrente de sua luta contra os efeitos devastadores da AIDS, Cazuza fez questão de acelerar o processo de criação, gravando em ritmo cada vez maior. Como resultado dessa pressa em produzir, o artista optou por lançar um LP duplo de inéditas (algo raro na época para músicos nacionais), que terminou por ser seu último trabalho em 1989.

Fazendo uso do formato de LP duplo, Cazuza optou por separar claramente os estilos. Enquanto no primeiro disco predomina o ritmo de rock nacional, semelhantes aos seus primeiros trabalhos ainda como Barão Vermelho, no segundo disco ele optou por um som que se aproximam mais da MPB ou da Bossa Nova.

Logicamente, no afã de produzir muito em pouco tempo e com a saúde abalada fortemente, há canções de qualidade discutível que não servem para retratar a sua carreira, como, por exemplo, o single utilizado para divulgar o disco, “Burguesia”, composta com versos pobres demais (A burguesia fede, a burguesia quer ficar rica, enquanto houver burguesia, não vai haver poesia....) para quem deixou como legado músicas tão brilhantes.

Após abrir o disco com “Burguesia”, vem “Nabucodonosor”, outra canção pouco representativa, mas que serviu para dar o tom biográfico bastante presente ao longo do disco, como em “Tudo é Amor”, canção que eu particularmente gosto mais nesse primeiro disco (Mesmo se for pra transformar...Num inferno um céu conformista...Mesmo se for pra guerrear...Escolha as armas mais bonitas).

As músicas subsequentes “Garota de Bauru”, “Eu Agradeço”, “Eu quero alguém” e “Baby Lonest” também não deixaram muitas saudades. Em “Como já dizia Djavan” recuperou sua velha parceria com Frejat em um som com a cara do Barão Vermelho: E as estrelas ainda vão nos mostrar...Que o amor não é inviável..Num mundo inacreditável...Dois homens apaixonados.

O primeiro LP finaliza com “Perto do Fogo”, um blues selecionado especialmente para fazer a ponte com o segundo LP, com todo seu inconformismo: “Quando tudo explodir... Mas não vai explodir nada...Vão ficar os homens se olhando....Dizendo: ‘O momento está chegando’...2000, é ano 2000...E não vai mudar nada”.

No segundo LP, as angústias vividas por Cazuza ficam mais evidentes, inclusive nas canções que não são de sua autoria, mas que parecem que foram feitas especialmente para esse último trabalho dele, como a ótima versão de “Quase um Segundo” (de Hebert Vianna), “Esse Cara” (Caetano Velloso), “Cartão Postal” (Rita Lee e Paulo Coelho) e “Preconceito” (Antonio Maria e Fernando Lobo), uma espécie de tango que valoriza o lado intérprete do Cazuza: “Se as nossas vidas juntas vão ter sempre um triste fim... Se existe um preconceito muito forte separando você de mim”.

O tom biográfico que já se fez presente no primeiro LP fica mais enfático nesse segundo LP, principalmente em canções como as belas “Cobaias de Deus” (Se você quer saber como eu me sinto...Vá a um laboratório ou um labirinto...Seja atropelado por esse trem da morte...), “Filho Único” (Estou na mais completa solidão...Do ser que é amado e não ama...Me ajude a conhecer a verdade...).

A respeitar meus irmãos...E a amar quem me ama),
e Manhatã (Agora eu vivo no dentista...Como um bom capitalista...Só tenho visto de turista...Mas sou tratado como artista...E até garçon me chama de sir...Oh! Baby, baby, só vendo pra crer).


O disco ainda conta com as sensíveis “Bruma” e “Azul e Amarelo” (em co-autoria com Lobão e Cartola) para finalizar com “Quando eu estiver cantando” (Porque o meu canto redime o meu lado mau...Porque o meu canto é pra quem me ama).

Enfim, esse disco merece ser lembrado não por sua qualidade técnica ou momento de extrema inspiração, já que o resultado final, tecnicamente falando, deixou a desejar. Mas certamente pode ser um disco-símbolo da luta contra a AIDS, que teve o mérito de traduzir toda sua angústia, tristeza, inconformismo e incertezas pessoais, e que certamente compunham o cenário vigente no Brasil no final da década de 1980.

Eu mesmo confesso que me desiludi logo que comprei esse disco naquela época, mas depois de um tempo percebi que o seu valor não devia ser procurado simplesmente nas canções, mas sim sob outra ótica: um trabalho de um artista que tinha pressa para produzir, para deixar um legado maior na sua luta contra o tempo. E se errou com a canção de trabalho (Burguesia), certamente acertou com outras, como a bela interpretação de “Cartão Postal”, afinal o adeus traz a esperança escondida
Pra que sofrer com despedida?


[Paul] 

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Viola extrema - Moda de rock


Hoje, pra variar, um pingo de bizarrice e uma colherada de metal!
Esse projeto é muito legal, formado por dois violeiros, que já participavam do grupo Matuto Moderno, "uma banda que já toca o som caipira com uma pegada rocker: viola caipira com pedais de distorção, slide, teremim, o que puder ser utilizado para dar uma roupagem moderna e pessoal no som". Muita coisa estou copiando mesmo daqui:
http://www.modaderock.com.br

Antes uma discussão sempre produtiva, mais pela pergunta frequente do que pela impossibilidade de resposta definitiva: o que faz um disco ser brasileiro e, por consequência, poder ser postado aqui?
Em primeiro lugar, já aviso: vou postar aqui o que eu quiser. Isso aqui é para diversão, minha e de todos os colaboradores, principalmente. Se alguém gosta, ótimo; senão, foda-se.
Mas voltando à pergunta, já incluí aqui o do Tom com o Sinatra, e justifiquei pelo fator 'o que', tocavam música brasileira, bossa nova ou standards da música americana com arranjos próximos da bossa, o que os aproxima do fator 'como'.
Que também está presente aqui, afinal tocam viola. Mas também há o fator 'quem', os caras (Ricardo Vignini & Zé Helder) são brasileiros, o que justifica por exemplo todos os discos do Sepultura.

Esse fator 'como' será retomado em breve num dos discos mais bizarros que tenho em casa, e que, provavelmente, mesmo assim com muitas dúvidas, só agradará ao Mestre X, porque gosta de punk e ironia. Aguardem.

Outra coisa é que esse foi o primeiro disco virtual que comprei via itunes! Quase dez doletas...devia ter pesquisado e comprado o cd mesmo.

Então vamos ao disco, dessa vez sem comentar faixa por faixa pra não entediar o Baiano: trata-se de várias canções de rock, hard rock e heavy metal que fazem parte do histórico de quase todo metaleiro dos anos 80, interpretadas com muita fidelidade, mas pela sonoridade, ficam às vezes irreconhecíveis pra quem não é obcecado e conhece todas os riffs e frases:

1. Kashmir (Led Zeppelin): perfeita, o Jimmy Page até tem uma viola e uma craviola, ficou linda mesmo (acho que vou comentar faixa por faixa...);

2. Master of Puppets (Metallica): essa versão acho até que o Mateus vai gostar mais do que da original, detalhista ao extremo, foi a que me motivou a postar o cd hoje, ouvindo e viajando na beira da piscina ontem de manhã (é, não trabalho todo dia, graças a Deus...), ao mesmo tempo a levada é bem violeira mas as linhas de guitarra são iguais!!

3. Norwegian wood (Beatles): mais uma que tem tudo a ver, começa com uma introdução meio livre e depois segue a original, sonoridade meio oriental, que também tem a ver com as violas;

4. In the flesh (Pink Floyd): essa acho a mais estranha, a eletricidade faz falta, mas de qualquer jeito ficou bonita;

5. Kaiowas (Sepultura): uma das poucas com mais improvisação em cima da base original, é a única com alguma percussão, por conta do 'palmeado e sapateado de catira' do Edson Pontes;

6. May this be love (Jimi Hendrix): essa ficou lírica, tem um arco  (aquela paradinha que usam pra tocar instrumentos de corda eruditos, viola, violino etc) no comecinho, cheia de virtuosismo;

7. Aces high (Iron Maiden): mais uma extremamente fiel às linhas originais de guitarra, mas o mais legal são as levadas aceleradas de viola;

8. Mr Crowley (Ozzy Osbourne): lindona também, explicita as raízes clássicas do Randy Rhoads, guitarrista do Ozzy na época dos primeiros discos, mas a levada é bem típica de viola, mesmo os solos estarem extremamente fiéis ao original;

9. Smells like teen spirit (Nirvana): uma das menos fiéis, demora-se pra reconhecer, mas quando começa a melodia não tem como não cantar junto; o solo é mais improvisado também, provavelmente pra fugir do original, que repete a melodia;

10. Hangar 18 (Megadeth): ficou com cara nova, bem legal e fiel às dobras de guitarra e levadas rápidas alternando com partes lentas;

11. Aqualung (Jethro Tull): termina bem o álbum, também fiel às guitarras, com as violas fazendo até aquela virada de bateria do começo, maneiríssima.

O legal, entre outras coisas, é que o disco é em estéreo total, você ouve uma viola de cada lado!!! Zé Helder no canal esquerdo e Ricardo Vignini no direito, dobras no centro em Kashmir, com participação especial de Renato Caetano no centro em Aqualung.

Produzido pelo Ricardo e mixado no Abbey Road!

(Dão)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Bebel Gilberto - Tanto tempo


Este cd é um dos que também comparece no livro original ( '1001 discos para ouvir antes de morrer', se você ainda não sabe...), fato plenamente justificável diante do apelo internacional da obra.
Na época original e muito bem sacado, misturando bossa nova, mpb e música eletrônica num clima lounge, hoje em dia parece diluído, mas sempre é bom lembrar que esta aparência se deve aos muitos imitadores, incluindo muitas coletâneas e clones. Aqui nesse disco se criou esse estilo, facilmente reconhecido hoje mundialmente, chame-se de bossa eletrônica, lounge acústico, new bossa ou whatever... Fácil dizer que ela se apropriou de estilos e 'só' misturou, como se a música popular não fosse exatamente isso. Além de tudo ela o fez com extremo bom gosto e capricho, o que resultou em um tremendo sucesso internacional de vendas (mais de 2,5 milhões de discos vendidos) e de exposição (participando de muitas trilhas de filmes - 'Closer', 'Next stop wonderland' entre outros - e séries de TV - 'Sex and the city', 'Six feet under', entre outros).
O disco é agradabilíssimo, e isto obviamente não é um defeito, as canções seguem fluindo num clima calmo e cool, sem maiores sobressaltos nem surpresas estilísticas.
Misturando composições próprias e clássicos, às vezes nem tão clássicos assim, da bossa nova, o disco tem a cara da sua criadora.

Então vamos às músicas:

Samba da benção é uma escolha arriscada, diante das muitas versões, inclusive a consagrada pelos próprios autores (Vinícius de Moraes/Baden Powell), mas a novidade vem pela programação e clima, já com todos os elementos que fizeram do disco um sucesso. E o que é clássico pela qualidade nunca deixa de ser novidade.
"É melhor ser alegre que ser triste
A alegria é a melhor coisa que existe
(...)
Mas pra fazer um samba com beleza
é preciso um bocado de tristeza"

August day song (Bebel/Nina Miranda/Chris Franck) não tem programação, sendo mais orgânica sem fugir do clima, mais uma bela. Os co-autores, cantora e músico são do grupo Smoke City, seguidores dessa new bossa.

Tanto tempo (Bebel Gilbert/Suba) começa lembrando muito a bossa nova clássica, com cordas e violão, bem lenta, contendo um sample de 'Amor de carnaval' (Gilberto Gil), poderia estar num disco do pai dela, João...

Sem contenção (Bebel/G Arling/R Cameron) traz o internacional Celso Fonseca no violão, além do percussionista João Parahyba, que aparecem em várias faixas além dessa. Belas vozes, mais agitadinha mesmo sem bateria, deve ter alguns remixes por aí, existe mesmo um 'Tanto tempo remixes'...

Mais feliz (Bebel/Dé/Cazuza) é das antigas, com os 'barões', mais uma linda, onde o próprio Dé toca violão e baixo, nem sei se já tinha sido gravada pelo Barão, alguém aí sabe?
''o nosso amor não vai parar de rolar
de fugir e seguir como um rio
(...)
o nosso amor não vai olhar para trás,
desencantar nem ser tema de livro
(..)
rimas fáceis, calafrios,
fura o dedo, faz um pacto comigo
num segundo, teu, no meu,
por um segundo mais feliz"

Alguém (Bebel/Suba/Béco Dranoff) é mais uma calminha e bonitinha. Com participação especiailíssima de mestre Marcos Suzano na percussão.

So nice (Summer samba) já é das mais tocadas, tanto na versão original quanto nessa aqui, mais 'muderna', mas ainda fiel à original. De autoria dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle com Norman Gimbel (talvez responsável pela tradução), é daquelas típicas da bossa nova, calma, plácida, remetendo àquele ambiente praiano. Ambiência é tudo por aqui...

Lonely (Bebel/Roberto Garza) foi a primeira que eu ouvi, através do saudoso emule, achei muito legal, calma sem ser chata, leve sem ser sem graça, teclados e vozes bem colocadas, tem até percussão de Carlinhos Brown! Produção by Thievery Corporation & Bebel Gilberto.

Por falar em produção, ela é bem variada, incluindo Amon Tobin, Suba (principal produtor), Chris Franck & Nina Miranda (Smoke City), Mario Caldato Jr e até o João Donato, que co-produz a próxima, Bananeira (João Donato/Gilberto Gil).
Essa música minha filha adorava ouvir, então eu tive que ouvir obsessivamente 'de novo, de novo, de novo', quem tem filho entende...É uma versão da música do João Donato, que não é tão legal. Aliás, por falar nele, ninguém vai postar 'A Bad Donato'????
Aqui no disco da Bebel ele é responsável pelo arranjo e pelo Fender Rhodes, um piano elétrico. Além dele a equipe é luxuosa: Robertinho Silva (bateria e percussão), Jorge Helder (baixo), Vitor Santos (trombone), Ricardo Pontes (sax alto), Jessé Sadock (trompete) e Henrique Band (sax barítono).

Samba e amor (Chico Buarque de Holanda) é uma excelente surpresa, minimalista, só voz e violão pelo Celso Fonseca. Linda, mas acho que ela imitou meu arranjo de 1998...

Close your eyes é a última, uma das poucas de autoria do Suba, junto com Patricia Ermel/Dinho Ouro Preto/Bebel Gilberto/ Béco Dranoff, uma das que ouvi primeiro via emule (que saudade!). Arranjo mais cheio, muita percussão, sopros bonitos, é um disco de extremo bom gosto e delicadeza(ui).

E esta é a nota final triste desse disco: o produtor, compositor e músico sérvio radicado no Brasil Suba, na verdade Mitar Subotic, morreu durante a produção do disco, por causa de um incêndio no estúdio de seu apartamento, onde ao tentar recuperar parte do material gravado, inalou muita fumaça. Literalmente, deu a vida pela arte.
Além deste canto do cisne, produziu Edgar Scandurra (Benzina, que em breve aparecerá por aqui), Mestre Ambrósio, Marina Lima, Arnaldo Antunes, Dinho Ouro Preto e Edson Cordeiro.
Descanse em Paz.

Lembro aqui que este não é o primeiro disco da Bebel, ela, além de participação nos discos 'Pirlimpimpim' e 'Saltimbancos', em 1986 lançou um EP (extended play) auto-intitulado, que continha 'Preciso dizer que te amo', parceria com Cazuza, que infelizmente ela ainda não gravou nessa nova fase.

(Dão)

sábado, 17 de novembro de 2012

Otto - Samba pra burro


Esse aqui não deixa de ser um álbum solo também porque antes o Otto era percussionista da banda mundo livre s. a., mas ele ficou realmente conhecido como artista solo.
Excepcionalmente, farei um post minimalista, até porque o cd permite isso...

Há duas grandes músicas no disco, as duas primeiras: 'Bob' e 'Low'.

A primeira (que tem um video muito legal 'filmado ao contrário', se não viu procure no youtube) começa lentinha, com uns tecladinhos maneiros, depois vai crescendo, com os elementos entrando em camadas (recurso trazido da música eletrônica): bateria a princípio leve, baixo sintetizado, vozes, etc, uma música com muita dinâmica, como todo grande música. Além disso tem a participação da Bebel Gilberto, coincidentemente o outro cd que trouxe para talvez postar hoje, numa voz etérea e linda.

'Low' tem um groove sensacional, tecladinhos vintage, um baixão forte, boas vozes e uma percussão muito muito legal, juntando tudo com uma letra em francês (o cara morou em Paris por dois anos) resulta numa ótima surpresa.

As minhas expectativas depois de ouvir esse começo eram altas, claro, mas infelizmente as outras não correspondem...

Não que sejam ruins, mas ficam longe das ótimas iniciais, merecendo citação 'Tv a cabo/ o que dá na lama' (com o verso "acabo de compra um tv a cabo/ acabo de entra pra solidão, acabo") e 'Distraída pra morte' com uns sopros bem legais (fluegelhorn e trumpete a cargo do Walmir Gil).

O disco tem aquela cara de mistura experimental com percussões, rap com repente e forró, drum'n'bass e outros estilos de música eletrônica, até cantigas de roda entram, acertando às vezes, às vezes errando feio.

Mesmo 'O celular de Naná', que traz como música incidental 'O chapéu tá no alto do céu' de Naná Vasconcelos (que incrivelmente ainda não tem nenhum disco por aqui), é meio frouxa e o Otto dá umas derrapadas na afinação.

Mas é um disco que merece estar aqui, simplesmente porque as duas músicas iniciais são MUITO boas mesmo, excepcionais eu diria.

Há muitas participações especiais, incluindo membros da Nação Zumbi (Gilmar Bola 8, Pupilo, Dengue e Lúcio Maia), Fred 04, Skowa, Zé Gonzales, entre muitos, até mesmo Carlos Eduardo Miranda, citado como tocando 'porta' (????) na música 'Café preto'...

A produção é de Apollo 9 com participação do DJ Soul Slinger em duas músicas.

(Dão)

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Altamiro Carrilho - Chorinhos didáticos para flauta



Bom, no geral, este blog está em falta com a música instrumental brasileira, e eu particularmente me sinto em falta com o agora finado Altamiro Carrilho e com o também finado Celso Blues Boy (que terá minha próxima resenha assim que conseguir achar ouvir 'Som na guitarra'). Fui até coagido gentilmente pelos meus amigos a abortar a saga dos álbuns solo por causa do Celso...
Altamiro Carrilho além de tudo é de Santo Antonio de Pádua, cidadezinha do norte fluminense próxima a Cambuci, cidade do meu pai biológico.
Sem esse virtuoso flautista, nos sobram hoje em dia no Brasil somente dois dos Grandes: Hermeto Pascoal e João Gilberto.
Esse disco específico é um dos dois que tenho dele, além de uma coletânea de choros onde ele interpreta Flamengo!
Além das músicas excelentes que, excepcionalmente, não serão comentadas uma a uma, o cd vem com as partituras e cifras dos choros!! Melhor ainda pra quem as lê fluentemente, o que não é o meu caso, mas com paciência chego lá. A crítica, não ao autor, é que, por força do tamanho diminuto dos encartes de cds, fica difícil ler, ainda mais depois dos 40 anos, obviamente o caso de todos nossos antigos colaboradores (com exceção da sempre genial Andreia, que deve ter uns vinte e poucos, com certeza). Mas nada que uma boa ampliação não resolva...
Você, mesmo que nunca tenha ouvido nenhum disco dele, possivelmente já o ouviu, talvez na introdução de uma música do Rei cujo nome não lembro agora (Detalhes, viva o google) e também no choro Meu caro amigo (Chico Buarque). No youtube tem uma participação num especial de 1976 do Roberto Carlos onde ele toca O calhambeque e Eu sou terrível.

Dá uma olhada aqui que tem muita coisa boa:
https://www.google.com.br/webhp?source=search_app#q=altamiro+carrilho+roberto+carlos&hl=pt-BR&prmd=imvnso&source=lnms&tbm=vid&sa=X&ei=jvOXUIjLF8ji0gGpzIGQAg&ved=0CAkQ_AUoAw&bav=on.2,or.r_gc.r_pw.r_cp.r_qf.&fp=5bd70720fe26254d&bpcl=37189454&biw=1440&bih=742

O disco traz 12 chorinhos (sem nome, só identificados por números) em duas versões, com e sem a flauta, para que você possa tocar ou improvisar a melodia. Além de legal, didático, com todas as músicas compostas pelo mestre flautista 'especialmente para um aprendizado correto e facilitado'.
Produzido por Jorge Gambier.

(Dão)


D2 - À procura da batida perfeita


Prossegue a saga dos álbuns solo, agora com um caso especialíssimo, como se diria no jargão administrativo corrente, um case de sucesso!
Marcelo D2, ex e atual vocalista da banda Planet Hemp (que voltou e está em excursão pelo Brasil), mesmo antes do seu fim (temporário, como se vê), já havia lançado um álbum mediano (que será postado aqui em algum momento), o Eu Tiro é Onda, mas foi com esse que ele realmente estourou a boca do balão, além do sucesso popular (já previsto e inclusive criticado na música título do álbum - 'domingo no faustão terça-feira na Hebe', que Deus a tenha), ele criou um estilo novo de música brasileira, o samba rap, que, como todos, às vezes acerta e às vezes não...
O nome do álbum é referência direta ao disco do Afrika Bambaataa chamado Looking for the perfect beat.
Esse disco tem umas músicas que eu gosto muito onde ele acerta na veia, mas tem umas que pra mim são bem fraquinhas e totalmente dispensáveis.
Produção do citado na resenha logo abaixo, do disco do Seu Jorge, o americano/brasileiro Mario Caldato, juntamente com o próprio Marcelo D2 e Davi Corcos.
O disco conta uma historinha, começa com uma Intro Pra posteridade, com uns samples (acho até que é a voz da Elis Regina, mas não há crédito no disco), e já emenda com À procura da batida perfeita, feita em cima do sample creditado da música Bonfa Nova do violonista Luiz Bonfá, D2 faz seu rap por cima de uma base muito legal com uns vocais femininos bonitos, e a música termina até com uns ruídos saudosistas de vinil.
Mais uma mini introdução e começa mais uma das excelentes do disco, Vai vendo, mais uma bela mistura de samba e hip hop, cheia de scratches e terminando com um sambinha de raiz não creditado... Diz o autor 'o pesadelo do pop', mas ele virou pop.
Começo de disco matador, na sequência vem a sensacional A maldição do samba, a perfeita mistura de hip hop e samba, levada dançante, um trompete bonito e inesperado, uns coros muito legais a cargo do Seu Jorge e do Duani, um refrão maneiríssimo, showtime!!
"O gringo subiu no morro e bebeu cachaça
fumou maconha e obteve a graça
depois do samba sua vida nunca mais foi a mesma"
Ainda termina com um trechinho da música Argumento (Paulinho da Viola): "tá legal, tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim", e eu sempre continuo cantando "olha que a rapaziada tá sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim"...
Pilotando o bonde da excursão é uma que poderia ter causado problemas legais ao autor, devido à potencial interpretação de apologia ao crime, no caso, posse de drogas, ainda mais que o Planet Hemp já tinha um histórico nesse sentido. Mas não deu em nada, é só uma descrição de vários tipos de ervas etc etc. Bom, aqui vou reproduzir os comentários do Seu Marcelo: "A minha versão para Rapper's delight. A base já estava pronta e faltava a letra. O Mario sugeriu uma anthem com os fans do Planet Hemp e eu resolvi contar um pouco do que vi, senti e fumei nesses anos", ou pelo menos a parte que ele lembra...É uma música simples mas divertida, com uma linha de baixo sinuosa e criativa, scratches, metais em brasa e uns tecladinhos eventuais.
Aí começa a parte mais chatinha do disco, Loadeando, onde o D2 canta com o filho Stephan, sobre evolução e a interação entre pais e filhos, e também sobre videogames, viagens etc. Mas a música é chatinha... Vale pelo refrão.
A seguinte, Profissão M. C., já retorna com a criativa mistura de rap com samba, além da mistura de rima com 'um bagulhinho'...
C.B. Sangue bom: sonzinho legal, guitarra meio reggae, D2 rimando solto por cima junto com o WILL.I.AM do Black Eyed Peas, o tema é fazer o bem e procurar a paz, dificuldade e superação, esses dilemas cotidianos e nem por isso fáceis.
"Quem é que mistura o rap com o samba? Sou eu, sou eu", assim começa Batidas e levadas, emendando uma base bem solta e rimas naquela vibe hip hop com alguns elementos de samba, principalmente os bons vocais femininos de resposta.
O álbum vai terminando e se encaminha bem assim com Re: Batucada, retomando a grande canção do primeiro disco solo Batucada, com mais um coro lindo de vozes femininas e o excelente mix de samba com rap. Homenageia no fim 'os verdadeiros arquitetos da música brasileira: Chico Science, Cartola, Jovelina, Tom Jobim, Candeia, João Nogueira, Dona Nelma, Tim Maia, meu amigo"
"Sorria
Meu bloco vem bem descendo a cidade
Vai haver carnaval de verdade
O samba não se acabou
Sorria
O samba mata a tristeza da gente
Quero ver meu povo contente
Do jeito que o rei mandou"
De passagem, tem um maluquinho falando umas paradas estranhas "Tu não sabe quem eu sou, Compadi? Quem? Ah, tá maluco, eu sou sinistro, como que tu fala assim comigo? Tu nem me conhece, tu nem me conhece...". Engraçado.
Qual é? começa com mais um corinho feminino lindo, é uma excelente música, daquelas com letra contundente, refrão grudento e pressão sonora! Guitarra suingada e funkeada!!
"Essa onda que tu tira
Qual é?
Essa marra que tu tem
Qual é?
Tira onda com ninguém
Qual é?
Qual é, neguinho, qual é?"

(Dão)
PS: essa resenha ou post é dedicada ao meu amigo Alexandre Duayer (honorável roadie do Rappa e NX Zero, que começou sua brilhante carreira trabalhando com essa máfia aqui) e ao amigo revisor Baiano...