sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Tem Mas Acabou - Pato Fu (1996)

O que é o Pato Fu? Qual é o som da banda? Que tipo de música eles tocam? Bem, se você acha que vai encontrar a resposta a essas perguntas aqui, ou, até mesmo, se você acha que estas perguntas são importantes, então pode pular pra próxima resenha.


Pato Fu é daquelas bandas que não se encaixam em lugar nenhum, e que não tem a menor preocupação com este encaixe e o som deles reflete muito bem isso. Ora pesado, acelerado e distorcido, ora eletrônico e cheio de samples, ora lento e suave... Tudo muito bem-humorado, já chegou a ser considerado pela própria Rita Lee como os legítimos sucessores dos Mutantes, e talvez este seja mesmo o parente mais próximo.


Um bom exemplo da mistureba total é a quarta faixa deste Tem, mas Acabou, de 1996. Capetão é pesada na guitarra, cheia de colagens musicais e tem uma participação (nem poderia deixar de ser) muito bem-humorada de André Abujamra. Voltando ao começo, o disco abre com Nós Mes, que é o auto-retrato da banda. É ouvir e continuar sem as respostas às suas perguntas, se você insistiu em ler até aqui. Em seguida, Água, traz o lamento de que mora no poeirão esperando a chuva e quando ela vem, o poeirão vira lama...


Pinga é o hit do grupo. Pelo menos aqui em casa. As crianças adoram e virou a trilha oficial do nosso carro em viagens mais longas. É daquelas músicas que as crianças pedem pra repetir e cantar junto o refrão homenagem à seleção de 70:


Se eu fosse Pelé, tomava café

Se eu fosse Tostão, tirava o calção

Se eu Fosse Dario, pulava no rio

Se eu fosse Garrincha, não pulava não.


A quinta faixa é O Peso das Coisas, que, apesar do nome traz a suavidade da Fernandinha Takai nos vocais (numa época em que eles ainda dividiam os vocais entre ela e John), numa balada pop no estilo ‘essa é pra tocar no rádio’ da banda. Segue Tchau Tô Indo Já Fui, com John cantando, o que nos dá a certeza de que a decisão de deixar todos os vocais a cargo de Fernanda foi uma decisão muito acertada (ainda que tenha demorado muito a acontecer, eles ainda gravaram uns quatro discos com John cantando...). Mas a música é boa, não destoa do resto do álbum, de forma alguma. Céreblo é canção protesto a la Pato Fu, o que significa: não espera qualquer semelhança com o Chico Buarque. Assim como Nuvens é bossa nova a la Pato Fu (precisa repetir a advertência?), com Fernanda cantando (talvez tenha vindo daí a idéia do Nelson Motta de gravar um disco homenageando a Nara Leão, ver postagens anteriores).


Little Mother of the Sky apesar do nome é cantada em português por John e tem um lickzinho muito bem executado pelo mesmo. Porque Te Vas é outro ponto alto do disco. Cover da música que fez sucesso num filme espanhol da década de setenta (Marcelino Pan e Vino? Não me lembro...) aqui recebe uma interpretação e arranjo que a transformam numa música autoral. A levada ligeira com base no trio clássico de guitarra (inspiradíssima aqui), baixo e bateria recebe o acompanhamento de um naipe de metais bem latino com Fernanda detonando na voz. Perfeita!


O disco segue legal, mas depois dessa música é inevitável perder um pouco o pique. 1 de Vocês, Lá se Vai, Dentro/Fora e Feliz Ano Novo fecham o disco com bons arranjos, boas passagens de guitarra, Fernanda cantando (que é sempre uma delícia...) mas nenhuma canção excepcional como Pinga, Água ou Porque te Vas. Não foi seu primeiro disco, mas este apresentou definitivamente a banda e sua graciosa vocalista. [M]

6 comentários:

  1. Disco bom mesmo (talvez o melhor deles).
    A minha leitura da citação dos jogadores em Pinga é um pouquinho diferente, já que o Garrincha não era da seleção de 70 (enquanto o Dario serviu apenas para a seleção ficar de bem com o Médice e nem jogou).
    Minha leitura (pessoal, obviamente), é o que esses jogadores famosos - mineiros ou cachaceiros - fariam despois de uma pinga: o Pelé (conservador), tomaria café; Tostão, (politizado), tiraria o calção em um ato rebelde; Dario (folclórico), pularia no rio e Garrincha (craque, derrotado na vida pelo álcoolismo), não pularia no rio porque não sentiria a menor diferença.
    Enfim... como eu disse, só uma leitura particular. Legal é cada um ter a sua...
    Abs
    Paul

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  2. é... tem razão, incluí por engano o garrincha na seleção de 70... Mas pra mim, o objetivo era só rimar mesmo, sem pretensão de mensagem nenhuma, apesar de que a sua intepretação é bem legal. [M]

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  3. Essa musiquinha ("Se eu fosse Pelé...") eu cantava na infância, acho que era só rima infantil, mesmo.
    Que nem a do Sabão Cracra, que foi usada pelos Mamonas.
    Mas a interpretação ficou bacana, mesmo.

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  4. Luma falou certo...
    Era um "incidental" que as crianças usavam ao final da canção "criança feliz"...

    Criança feliz
    Feliz a Cantar
    Alegre a embalar
    Seu sonho infantil...
    (daí entrava a invenção da gurizada)
    Se eu fosse Pelé, tomava café,
    Se eu fosse Tostão, Tirava o calção,
    etc...


    Agora, o Paul do comentário aí de cima foi longe na sua viagem... hehehehe

    Edu

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  5. O nome do filme é Cria Cuervos do Carlos Saura...

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  6. Isso! Grato ao leitor, Cria Cuervos, de Saura, segue o link do momento em que aparece a música:

    http://www.youtube.com/watch?v=25ckdkg1xCw

    E aqui, versão ao vivo do Pato Fu

    http://www.youtube.com/watch?v=JLnDwU5G_sE

    [M]

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