sábado, 27 de setembro de 2008

Porque hoje é sábado... (Tom, Vinícius, Toquinho e Miucha ao vivo no Canecão - 1977)


Esse é um dos poucos discos nacionais que teve a honra de ser incluído da publicação que serviu de inspiração para esse blog, e só isso seria já motivo suficiente para sua inclusão. Mas com pouco espaço, as suas inúmeras qualidades não foram suficientemente analisadas naquela lista.
Trata-se da gravação em 1977 do show no Canecão (casa de espetáculo famosa no Rio de Janeiro), que reuniu quatro gigantes da bossa nova em um momento de total sintonia, difícil de ocorrer em ocasiões semelhantes.
Começa em ritmo eletrizante com “Estamos Aí”, emendando com a entrada de Vinícius de Moraes recitando a sensacional “Dia da Criação”, porque hoje é sábado.... Confesso que naturalmente sou avesso a poesias em show de música e, mas dessa vez, o poeta acertou totalmente o tom. Em seguida, partem para uma “Tarde em Itapuã”, composição da parceria Toquinho/Vinícius que dispensa apresentação, emendando com “Gente Humilde” (Toquinho).
Em seguida, duas canções em uma: “Carta ao Tom” e “Carta do Tom”, uma espécie de brincadeira entre esses amigos que retratavam em carta ao distante Tom, como a cidade havia mudado:
“Lembra que tempo feliz, ai que saudade, Ipanema era só felicidadeEra como se o amor doesse em pazNossa famosa garota nem sabiaA que ponto a cidade turvaria este Rio de amor que se perdeu”
O disco segue com um cantinho e um violão do Tom Jobim interpretando o clássico “Corcovado”, canção que serviu de inspiração para batizarem, justamente diga-se de passagem, o aeroporto internacional do Rio de Janeiro de Maestro Antonio Carlos Jobim, emendando com “Wave”, cujo disco original foi o primeiro citado no presente blog..
Em seguida, Miúcha entra no palco para dar o toque feminino ao show, com a versão que se tornou definitiva de “Pela Luz dos Olhos Teus”, em interpretação dupla com Tom.
No momento certo, o ritmo diminui com “Saia do Caminho” e “Samba pra Vinícius”, mais uma homenagem de Miúcha e Toquinho ao poeta.
Mesmo com toda a fama, com toda a Brahma, com toda a cama, com toda a lama, o quarteto segue com “Vai Levando”, de Chico Buarque e Caetano (outro dois monstros sagrados que acabaram, dessa forma, também contribuindo para esse disco).
Na seqüência, “Água de Beber” é outra que dispensa comentários, seguida da mais famosa canção composta em mesa de bar por amigos inspirados pela beleza de uma garota que passa. “Garota de Ipanema” foi eleita a 14ª canção essencial da música brasileira pela revista Bravo recentemente e deveria ser matéria obrigatória no ensino fundamental. Nessa interpretação, há inserções de lembranças do Vinícius da garota vestida de normalista que olhava e sorria pra eles... por causa do amor...
Depois de “Sei lá”, mais um momento de pura inspiração da parceria Toquinho/Vinícius com frases lapidares como a hora do sim é um descuido do não. Genial.
Se você quer ser minha namorada..., o show segue em um momento romântico com mais uma bela interpretação da Miúcha com “Minha Namorada”.
Como se não bastasse, o disco finaliza com “Chega de Saudade” (eleita 4ª canção essencial da música brasileira pela Bravo), pois há menos peixinhos a nadar no mar do que os beijinhos que eu darei na sua boca, complementando com “Se todos fossem igual a você” e um bis de “Estamos Aí”.
Pessoalmente, esse disco me traz recordações da infância, pois lembro que minha irmã, mais velha, escutava-o sem parar e eu, sem a capacidade de absorver totalmente a magia que representava naquela idade, ironizava o “dia da criação” com todos os sentidos do sábado. Felizmente, depois de um tempo passei a valorizar esse disco que hoje ocupa lugar especial na prateleira. Tudo isso porque hoje é sábado.
[PAUL]

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Vai passar nesta avenida um samba popular - Chico Buarque (1984)



1984. A ditadura se despedia dando lugar à Nova República.

Tudo Bem que Tancredo morreu em circunstâncias misteriosas, Ulysses sumiu num desastre de helicóptero e tivemos Sarney e Collor como os dois primeiro presidentes civis em 20 anos, mas até então estávamos comemorando, e muito. Em janeiro de 1985, a capital fluminense foi sacudida na cidade do rock, dando voz a vários artistas brasileiros (então) emergentes, como Lulu Santos, Kid Abelha, Eduardo Dusek, Barão Vermelho e Paralamas do Sucesso, que viriam a ser (boa parte d)a voz da juventude nacional pós-ditadura. Mas A VOZ nacional durante os anos de chumbo, lançou o hino que simbolizou todo o sentimento de uma geração "acostumada" com um vocabulário que incluía AI-5, DOI, DOPS, guerrilha, tortura, revolução, censura...

A melhor memória que eu tenho deste disco do Chico é lembrando dos meus tios e da minha mãe cantando Vai Passar a plenos pulmões... A outra é olhar as capas de disco do Chico lado a lado até 1984 e reparar que este disco vermelho, bem vermelho, definitivamente vermelho, com um Chico vestido de azul celeste, ensaiando uma sambadinha e um sorriso só pode ser uma comemoração. Na verdade o disco, como um todo, é até um pouco irregular (o que viria a se tornar uma constante nos trabalhos seguintes do compositor, infelizmente). Vai Passar (de Chico e Francis Hime) é um samba-hino, é a história recente do Brasil, não é música que possa ser comparada com outras, seria muita injustiça, pois transcende o aspecto meramente 'musical' da obra. Mas o disco ainda traz composições de primeiríssima grandeza, como Brejo da Cruz (que já adiantava que o fim do regime militar não resolveria 'todos' os nossos problemas, pelo contrário), Samba do Grande Amor (ironicamente, esta música até poderia ser entoada para a 'nova república' que ali nascia: tinha cá pra mim que agora sim eu vivia enfim um grande amor...: mentira!) e Pelas Tabelas (outra canção de apelo histórico-político). Participações de Dominguinhos em Tantas Palavras, João Bosco (em Mano a Mano) e Pablo Milanés (em Como se Fosse a Primavera) conferem charme especial ao disco, enquanto que Suburbano Coração, Mil Perdões e As Cartas são os pontos um pouco distoantes no disco.

Depois dos tropeços naturais do processo de redemocratização, o samba popular parece que vai passando mais animado agora, e oxalá continue por muito tempo e acelerando... [MATEUS]

Meu nome é Gal! (Gal Tropical - Gal Costa - 1979)

Se esse disco só tivesse Samba Rasgado e Noites Cariocas já seria motivo suficiente para estar nesta lista. Se. Por que Gal Tropical de 79 começa arrebentando com essas duas canções maravilhosas e continua sem perder o rebolado noite adentro... O clássico deste disco é Balancê, que tocou até furar o disco naqueles tempos, mas Gal Tropical vai muito além de Balancê... Até onde ela é melodramática, em Índia, Força Estranha, Dez Anos, Olha e, principalmente, em Juventude Transviada; ela simplesmente arrebenta. Completam o disco releituras da Preta do Acarajé (de Caymmi) e de Meu Nome é Gal (de Roberto e Erasmo), gravados em álbuns anteriores da Gal; a Estrada do Sol e o Bater do Tambor. A seleção dos compositores, sempre muito criteriosa, inclui além dos já citados: Caetano Veloso, Tom Jobim, Jacob do Bandolim... Na banda, uma curiosidade: o guitarrista era Robertinho do Recife (metaaaaaaaall!, ver post anteriores), que faz um dueto com a cantora em Meu Nome é Ga-a-aal... Talvez tenha sido o último grande disco da Gal, infelizmente. Mas se foi uma despedida, foi simplesmente impecável. [MATEUS]

Como uma quilha corta as ondas... (MTV Acústico - João Bosco - 1992)

A série Acústico-MTV já nos brindou com momentos memoráveis. Meus favoritos são os da Cássia Eller e do Lenine. O dos Titãs ainda tá de quarentena, mas também é memorável... Este aqui do João Bosco é um caso à parte. Acústico e só. Só João e o violão. O repertório também deve ser levado em consideração: tirando Papel Machê, nenhum dos clássicos tipo Bêbado e a Equilibrista se encontra aqui. O que poderia ser considerado um ponto fraco acaba se mostrando um mérito: as canções menos conhecidas do grande público ganham força no duo afiadíssimo de violão e voz do João. O show privilegia os trabalhos mais recentes até então, o repertório inclui: Trem Bala, Memória da Pele, Holofotes e Zona de Fronteira do disco homônimo de 1991; Jade e o poema de Maiakóvski "e então, que quereis?" emendado com Corsário do disco Bosco, de 1989; Odilê, Odilá do álbum Cabeça de nego de 86; Papel de Machê (de 84); e apenas três composições originais da década de 70, Tiro de Misericórdia, Escadas da Penha e Quilombo. O meu destaque vai pra unidade do disco, que não deixa a peteca cair e no final arrebenta com Maiakóvski abrindo Corsário a música mais maravilhosa do disco todo, o violão é hipnotizante!. Depois João emenda Fita Amarela em Eleanor Rigby, finalizando com Trem Bala. Impecável. Talvez este tenha sido o primeiro acústico da mtv brasileira (1992, já se vão bons 16 anos), não sei... Até onde eu saiba, nem saiu vídeo! [MATEUS]

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Quanto mais purpurina melhor... (Realce - GIlberto Gil - 1979)

Uma vez o Conrado me falou que o Caetano não gostava deste disco, que o achava comercial demais. Se isso é verdade, também é quase certo que o Caetano mudou de idéia.
EEEIA-MA-MA!... EIAAAAAAA... Não se incomode o que a gente pode, pode, o que não pode, explodirá! Pra começo de conversa, Realce, a faixa que dá nome ao disco é sensacional, irresistível... Sarará Miolo, também. Metais a toda, banda afiadíssima, Gil a pleno vapor... Super-homem a canção-manifesto, depoimento que só um artista completo daria, sem medo dos mal(ou bem)-entendidos. Tradição é a música que eu menos gosto no disco, mas é só porque a versão regravada no tropicália 2 é melhor, porque é uma baita música, e eu fico viajando nessa garota do barbalho, um garota do barulho... A versão de Marina do Caymmi é muito melhor que a original, é de arrebentar, é muito mais convincente, aqui sim, a Marina deve ter levado a sério. Rebento é autobiográfica, vou pular por que depois vem Toda Menina Baiana, um clássico do repertório do Gil e está claro porque, baita música. Essa música é até difícil de classificar ritmicamente, aliás, o disco todo é, uma mistura das mais bem dosadas de rock, reggae, samba, forró e tudo mais que o gil gosta e sabe fazer tão bem. O disco termina com a versão de Gil para No Woman No Cry, bem, se tem alguém poderia fazer uma versão prum clássico de Bob Marley, esse alguém tem que ser Gil, e aqui é um encontro sensacional. O disco lançado originalmente em 1979 realmente realça. [MATEUS].

Quem foi que disse que os melhores discos do Caetano são os mais antigos? (Cores Nomes Caetano Veloso - 1982)

Eu disse!, e a prova tá aqui: este post não é apenas uma provocação ao post do "Cê", é acima de tudo, uma opinião (mas se alguém postar "Araçá Azul" eu não brinco mais!...). Bem, vamos ao que interessa: Cores Nomes, disco do Caetano de 1982. Meu disco favorito do Caetano. Porque? nem sei... Talvez porque me lembre da casa da minha irmã, este disco, Luz (Djavan, que em breve será postado), e 4Way Street (CSN&Y). Ou talvez por que o disco seja real e simplesmente muito bom!!! Abre com "um amor assim delicado, você pega e despreza!", caetano gritando uma queixa à mulher amada, "não devia ter despertado, ajoelha e não reza". Quem é que já não se sentiu assim? A música tocou demais? Sorte nossa! E pros enjoados: isso foi há mais de 20 anos, pode sentar e escutar de novo, tranquilamente. Depois, pra arrebentar, "Ele me deu um beijo na boca". A música é um show à parte da banda que o acompanha, em especial um contra-canto árabe, cortesia de Jane Duboc. Trem das Cores, "a seda azul do papel que envolve a maçã", é a próxima, uma das músicas mais bonitas do caetano. As três próximas faixas que fecham o lado A dão um descanso ao ouvinte, o que arrebenta mesmo são essas três primeiras... Descansou? Levantou, mudou o lado e lá vem "Cavaleiro de Jorge" tirando o fôlego de novo. Caetano interpreta Sina de Djavan em seguida, e essa música casa muito bem com ele. Depois vem a música de amor mais bela já escrita em português, "Meu Bem, Meu Mal". Muito mais exagerada que o exagerado de cazuza, muito mais desesperado que o amor do maestro por Luiza, "você é meu caminho, meu vinho, meu vício desde o início...". De novo ele desacelera pra terminar o disco, preguiçosamente, com Gênesis, Sonhos (de Peninha) e Surpresa...
Cores de vários tons e matizes. Nomes de gente as mais diversas. Caetano puro, sem gelo ou limão. [MATEUS]

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Apesar da Marrom...naquele dia o samba morreu! (A voz do samba - Alcione - 1975)



“Trabalho igual ao meu todo mundo quer. Mas nem todos podem arranjar. Pego às onze horas, largo ao meio-dia e tenho uma hora pra almoçar”. Esse delicioso trecho de “Todo Mundo Quer” está nesse primeiro LP da Alcione. A VOZ DO SAMBA de 1975.

O que se pode falar sobre Alcione além de que, junto com Beth Carvalho, disse tudo no samba entre a década de 70 e meados de 80. Simplesmente não existe roda de samba amadora que não saque lá em algum momento coisas como “O surdo” ou “Não deixe o samba morrer”.

Aliás roda de samba e...Karaokês amadores...e aí vai uma tragédia pessoal: numa festa familiar que tem tudo para ser um pouco menos que chata, o anfitrião resolveu alugar um desses aparelhos karaokês digitais. Aqueles que indicam notas ao final na tela da TV. Pois bem. A coisa ia andando, a criançada judiando com os Xuxa e Elianas da vida, até que um membro da família (vou preservar a identidade para evitar problemas judiciais) resolve cantar o clássico “Não deixe o samba morrer”...não existe adjetivo em nossa língua para definir a tragédia que foi sua interpretação. Nem Bethania seria mais melancólica. Resultado: NAQUELE DIA O SAMBA MORREU!!!! E de forma medieval. Morte lenta e torturante. E o aparelho ainda dá uns 67 pontos: “Bom. Mas é preciso treinar mais”.

À parte o relato, o disco é fundamental para quem gosta de samba. Tem Candeia, Ismael Silva, Zé Kéti e até uma apoteótica composição de Caetano Veloso.

Sem contar que ela está ótima na capa!

História de pescador/O Surdo/Acorda, que eu quero ver/Aruandê/Batuque feiticeiro/Espera/Não deixe o samba morrer/Etelvina, minha nega/É amor...deixa roer/Todo mundo quer/Até o dia de são nunca/Samba em paz-A voz do morro.

(ZEBA)

domingo, 14 de setembro de 2008

Arnaldo Antunes Ao Vivo no Estúdio - 2007



Quando vi esse blog fiquei super a fim de dar o meu palpite também… fiquei na fissura de escrever sobre o Nando Reis, mas ainda tá difícil – é muita paixão para pouca crítica.
Resolvi então falar de um outro ex-titã e contar do Arnaldo Antunes AO VIVO NO ESTÚDIO (2007).

O Arnaldo é aquela coisa difícil, aquela coisa geométrica da poesia concreta traduzida para os ouvidos, e eu sei, tem hora que bicho, é muita linha reta! Mas esse cd tá lindo, super delicado e o Arnaldo tem esse jeito infantil de cantar os sentimentos humanos, que às vezes é quase uma canção de ninar. Fiquei pensando, pô, ele era tão punk nos titãs e agora com esse tom infantil, com essa voz macia. Mas tanto o punk como o infantil nos desconcertam, quebram as nossas pernas porque nos desarmam. Acho que é por isso que o Arnaldo me surpreende.

Logo nas primeiras canções do cd - “Qualquer”, “Saiba” e “Fim do dia” - a gente percebe esse poder infantil, essa mistura de sentimentos infantis com a realidade adulta. E o cd vai rodando e o Nando chega pra cantar junto a maravilhosa “Não vou me adaptar”. Nesse cd a música ganha uma versão alegre, cheia de reggae, tranquila de ouvir. Mistura feliz de dois ex-titãs! E o Nando com aquela voz desajeitada dele, sem pressa, vai cantando as difilculdades de virar gente grande…

Como não poderia faltar, o trio tribalista tá lá e canta “Um a um”. Apesar de não trazer nenhuma surpresa na versão, essa música é muito bonita e é muito legal essa estória de dividir o espaço com o amigos. E é isso, essa música fala disso, de aprender a dividir, e que quando é bom de se jogar, dá 1x1. E no encarte tem umas fotos lindas e a Marisa Monte tá no maior visual Frida Khalo! Aliás encarte pra mim faz parte do cd…

E tem também uma versão muito massa de “Qualquer Coisa” do Caetano. A introdução é linda, com um piano e uma guitarra forte, marcando quase que cada palavra. Com uns efeitos meio que eletrônicos durante. Ah é linda! É uma versão reta, sem muito tempo pra respirar, com as palavras claras e quase faladas.

Aí é a vez da “O que”, mais uma da fase titânica. Versão enxuta, só voz, guitarra e uns efeitos eletrônicos que parecem ondas. Essa só ouvindo mesmo! tá bem boa!

Mas acho que as surpresas maiores estão nas últimas duas faixas – “Luzes”, um poema do Leminski , que é uma coisa… ele transformou o poema num tango, com uma sanfona e uns violões de matar. É quando ele diz que “essa noite vai ter sol”. A música vai encorpando, enchendo nossos ouvidos, a sanfona vai ficando poderosa e tomando conta da cena.
Arnaldinho matou a pau nessa!

A impressão que tive, quando ouvi esse cd, foi que o Arnaldo tá a fim de paz, mas você só saca isso depois de ouvir o Edgar Scandurra fazendo aquela guitarra se descabelar em “Judiaria”.
Sem palavras.

[ANDRÉA]

sábado, 13 de setembro de 2008

Todo carnaval tem seu fim? (Bloco do eu sozinho - Los Hermanos - 2001)




O que esperar do segundo disco de um grupo que surge com um hit fácil que acaba em superexposição, com aparições em faustões da vida? Nada? Pois é... eu cai nessa e quando Los Hermanos, após o sucesso pop e fácil de "Ana Júlia", lançou Bloco do Eu sozinho, seu segundo trabalho, não dei muita atenção. Eu e a mídia toda, que ignorou por completo esse disco na época do seu lançamento. Não se ouviu nada nas rádios (as mesmas que cansaram literalmente de tocar Ana Júlia anos antes) e acabaram rompendo com a gravadora.

Tempos depois, resolvi me libertar do preconceito (confesso), fui até alguma loja e comprei o disco sem nunca ter escutado nada (motivado pelo elogio que li em alguma revista confiável). E qual não foi minha surpresa a me deparar com uma das minhas melhores aquisições naquela época.

Tudo começa com "Todo carnaval tem seu fim" esbanjando uma bela nota 10 com um sensacional arranjo de metais de Rodrigo Amarante (a composição é do Marcelo Camelo). Na sequência, "A Flor" começa tímida até arrebentar com um ritmo surpreendente e muito bem trabalhado. "Retrato pra Iaiá" vem sonora numa balada mais tranquila. Depois de "Assim Será" (maravilhosamente destoante) e a poética "Casa Pré-fabricada" (Cobre a culpa vã... até amanhã eu vou ficar e fazer do seu sorriso um abrigo), até surgir outro ponto alto do cd, com a criativa e genial "Cadê teu Suin-?", momento de pura inspiração de Marcelo Camelo.

Depois vem a lindíssima "Sentimental", de Rodrigo Amarante, excelente trilha sonora para um romance, onde o sentimento de rejeição, acrescida de conselhos sentimentais no telefone quase imperceptível, resulta em outra música maravilhosamente harmoniosa.

Segue-se com "Chez Antoine", cujo toque fraancês não se restringe apenas à letra, mas ao ritmo semelhante ao um realejo. E seguida, "Deixa estar" e "Mais uma canção", outra romântica onde os arranjos de metais dão um toque especial. "Fingi na hora de rir" merece destaque pelas guitarras distorcidas.

Depois mais um ponto alto do disco (talvez o maior), com "Veja bem meu bem", canção de letra tão original e bem elaborada que outros grandes cantores como Maria Rita e Ney Matogrosso resolveram interpretá-la em seus trabalhos individuais.

Posteriormente, demonstrando que um disco homogêneo pode apresentar diferentes ritmos, Los Hermanos surgem com um som puramente hardcore - ou seria punk?, com "Tão sozinho". Para concluir essa verdadeira obra-prima, "Adeus Você", sintetizado o tema recorrente que dá uniformidade ao trabalho: pra que minha vida siga adiante.

Enfim... esse disco mudou totalmente minha opinião com relação ao potencial dos barbudos que fizeram parte de Los Hermanos. O fim anunciado no ano passado só serviu para minha admiração pelo grupo fosse maior, pois novamente tiveram a coragem de remar contra a maré no auge do reconhecimento do trabalho. A questão agora é saber se realmente todo carnaval realmente tem seu fim? Se tem, pelo menos deixaram grandes recordações.
[PAUL]


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Rock'n'roll! (Cê - Caetano Veloso 2006)


Quem disse que o clássico tem que ser velho? Quem criou a diferença entre rock e mpb? Quem foi que disse que os melhores discos do Caetano são os mais antigos?
Bullshit.
Em 2006 Caê lançou esse petardo (termo sempre usado no rock, mas que merece aqui sua presença). Rock, mpb, excelentes composições, timbres surpreendentes, vozes e melodias marcantes, espaços e silêncios entre os sons. Um clássico quase instantâneo. Quase porque o disco merece várias audições antes de se apegar a ele.
Eu não tenho muito saudosismo. Gosto de discos mais recentes do Caetano, como Noites do norte, A foreign sound, Fina estampa, Circuladô. Até compro os cds...
Claro que também admiro muito o trabalho dos anos 70 (que claro que também têm clássicos do próprio a serem postados aqui), mas em geral os timbres, principalmente os de guitarra, são sofríveis. Que me desculpe o Genial Lenny. Nos anos 80, pós-Liminha produzindo o Gil e depois do BRock, os sons melhoraram muito. E o Caetano continuou a lançar excelentes discos.
Mas discordo, por exemplo, do disco de 1968, auto-entitulado, constar no livro '1001 discos pra ouvir antes de morrer' (que obviamente serve de inspiração para este blog que vos posta), juntamente com o Circuladô, que eu adoro.
Preferiria ver o Araçá azul, mais experimental que o citado, sem nenhuma composição top e com aqueles timbres horrendos de guitarra. Mas eu acho mais merecedor da citação.
Eu tenho uma viagem recorrente matinal, naquele estado sonâmbulo quase lisérgico ao despertar: eu ouço discos que não foram lançados, tipo Hendrix com Miles, Hermeto com Tom, Janis com Lennon, Gil com Jorge (ops, esse existe...). E às vezes eu ouço o ‘Araçá blues, agora com pro-tools’, com vozes de Carmen sobrepostas a loops de Timbalada, o silêncio de João mixado ao virtuosismo de Pepeu, vozes de Orlando Silva e Caymmi fundidas com a de Janis Joplin, um cd com 128 canais barrocamente trabalhados... Será que ainda ouvirei esse neofonismo? (Adoro essa palavra! Vale uma música).
Mas vamos ao disco: inicia com ‘outro’, com um riff básico e forte, como um bom rock tem que ser; traz ainda a excelente frase ‘feliz e mau como um pau duro’! Tem um solo de guitarra excelente e atípico nos discos do Caê.
Na seqüência muda o clima, ‘minhas lágrimas’ é cheia de espaços e silêncios, com uma guitarra presente e discreta. Bonita.
Aí vem o primeiro orgasmo (cedo demais?): ‘Rocks’, reta e poderosa, com solo ‘mete o dedo na guitarra’ com feedback e tudo. ‘Você foi mor rata comigo’ é um excelente grito inimigo. Será que o Caetano pagou royalties ao Zeca?
‘Deusa urbana’ pertence a linhagem de músicas inspiradas em fêmeas. Belo é ver o medo exposto, a mucosa roxa citada, uma guitarra com trêmolo e overdrive.
‘Waly Salomão’ é mais uma marca que os poetas (o homenageado e o cantor) deixaram pra nós, música tribal e boa.
‘Não me arrependo’ inicia com uma citação de ‘Walking on the wild side’ do Lou Reed e uma bateria que lembra a música anterior. Linda letra, sobre bons sentimentos em fins de relacionamentos (tema sempre inspirador). Há aqui, e em todo o disco talvez, uma tendência a interpretar a arte como auto-biográfica (Caetano vinha de uma separação). Acho irrelevante, além de inútil e desinteressante. Talvez seja trabalho pra seu biógrafo...
‘Musa híbrida’, dançante, com uma guitarrinha safada (não sei se há um wha-wha ou um auto-wha). Tem uma levada de bateria quase axé, uns falsetes quase gays, uma letra quase Carlinhos Brown. Mas afinal o que significa ‘cúprica’? Estou sem dicionário por aqui...
Mais um orgasmo: ‘Odeio’, rockão, guitarra obsessiva e insistente, riff primal. Mas a música muda, oscila, acalma. Tem alguns dos melhores versos do disco: ‘todas mucosas pra mim’, ‘forte e feliz feito um deus, feito um diabo’, ‘só eu, velho, sou feio e ninguém’, ‘veio e não veio quem eu desejaria se dependesse de mim’, ‘São Paulo em cheio nas luzes da Bahia / tudo de bom e ruim / era o fim, é o fim, mas o fim é demais também’. Uma guitarra esquizofrênica com filtro encerra com chave de Hendrix.
‘Homem’ diz o orgulho de sê-lo, e diz tudo e diz bem. Mas fica a inveja dos orgasmos múltiplos. Fazer o quê? Gozar? O que é o tema da música seguinte, ‘porquê?’. ‘Estar-se a vir’ seria algo como ‘estou gozando’ em Portugal. Vem acompanhada de um sotaque lusitano. Se eu fosse produtor teria limado essa.
‘Um sonho’ parece que traz Morelembaum de volta, mas é uma guitarra em stacatto, bela música.‘O herói’ é uma das minhas preferidas, tema épico, dinâmica, temática bandida, narrativa que se aproxima do rap, vozes em dissonância de microtons no fim. Encerra irritando. Rock’n’roll!!!!

A segunda menor big band do mundo (Música é ciência - Mulheres Negras - 1988)

Maurício Pereira e André Abujamra eram Os Mulheres Negras e essa dupla chacoalhou Campinas algumas vezes no final da década de 80 (e provavelmente outras cidades também, eu é que não vi...). Esses dois paulistanos criaram a segunda menor big band do mundo baseados em ritmos eletrônicos e colagens musicais (estamos falando de 1988), na guitarra do Abujamra e no sax do Maurício. Muito antes dos Mamonas Assassinas e bem mais sutil e inteligentes que estes, a dupla representa o que há de melhor na vertente bem-humorada da música paulistana, na mesma tradição de Adoniran Barbosa, os Mutantes, Premê e Língua de Trapo. O disco começa com Maurício pedindo uma pizza no orelhão, meia calabresa, meia muzzarela, meia 4 quatro queijos, meia... e o endereço para entrega é a caixa postal da banda. E termina com na irresístível levada "nosso objetivo é fazer música pop, quem sabe algum dia ficar rico e xarope". No meio de tudo isso, o "hit" Sub, uma versão desconstrutiva de Yellow Submarine, Purquá Mercê, Feridas, Eu vi, Lobos para Crianças, Milho e uma das minhas favoritas, Gambá, música escrita em cima de um lick blues-jazzístico do Abujamra. Os Mulheres se separaram, mas o Maurício tá por aí e o Abujamra toca a sensacional Karnak (ainda existe?), que também vai ganhar um post por aqui, já já... [MATEUS]

Caipiras, e com muita classe... (Ao vivo em Tatuí - Renato Teixeira, Pena Branca & Xavantinho - 1992)

Ok, este trio aqui também não representa a música sertaneja "de raiz" (mas é muito mais próximo dela do que o que hoje se chama por aqui de "country"...), Pena Branca, Xavantinho e, principalmente, Renato Teixiera são quase "cult" no universo da música caipira. Mas o elogio e a presença aqui não se deve a nenhum caráter de 'resgate das nossas raízes interioranas', nenhum motivo antropológico-cultural ou essas coisas. A coisa é simples: o disco é bom, muito bom. Começa com Renato Teixeira cantando sozinho, depois entram Pena Branca & Xavantinho para acompanhar. O repertório é de primeiríssima: clássicos como a Chalana, Rio de Lágrimas, Vaca Estrela e Boi Fubá e De Papo pro Á são acompanhados pelo Cio da Terra (de Chico e Milton, na voz de PB&X) e Canto do Povo de um Lugar (Caetano, também por PB&X); e o repertório clássico de RT que inclui a óbvia, e lindíssima, Romaria, Amanheceu Peguei a Viola, O Violeiro Toca e Tocando em Frente (essas duas últimas, percerias de RT com Almir Sater). O disco é ideal pra um final de tarde na varanda sem vergonha da preguiça e de não ter nada a fazer senão se balançar numa rede. "Ando devagar, porque já tive pressa..." [MATEUS]

Ainda continuo não sabendo de nada...mas RC ajudou muito! (Roberto Carlos 1972)

Já que a proposta é ambiciosa. 1001 discos..... Tenho certeza que este não será o único do Roberto por aqui. Então, dou início às indicações.

Esse é o de 1972. Aliás, disco do Roberto tem que ser identificado por ano, pois pela capa..."sabe aquele disco do Roberto? aquele lá que tem ele na capa!".


Essa indicação também tem cunho afetivo. Neste disco está a primeira música que escutei do cidadão: "Agora eu Sei". Eu devia contar com uns 6/7 anos, e virei fã no ato. Com os discos do Robeto Carlos ficava em frente ao 3 em 1 da família, fantasiando que era ele.

Até que ele conheceu Mirian Rios e deu no que deu...pena...Seja como for, de sua fase A.M. considero este o melhor trabalho.

No livro "Roberto Carlos em Detalhes", que deu aquele bafafá todo, o autor aponta este trabalho como o mais autoral do Rei. Vide "O Divâ".

Mas já falei muito...afinal eu não sei de nada e "vivia no ar"

ZEBA.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Onde Brilhem Seus Olhos - Fernanda Takai - 2007

Fernanda Takai tornou-se conhecida do grande(?) público como integrante do Pato Fu (que logo logo merecerá um post por aqui...), mas neste primeiro disco "solo" ela se revela uma outra cantora. Ainda que a produção e instrumentação tenha sido feita quase toda pelo marido/parceiro de Pato Fu, John, o disco gravado no estúdio caseiro do casal difere do trabalho da banda no "tom". A abordagem humorística típica do Pato fica muito mais sutil em favor das canções e da voz suave da Fernanda. A idéia de gravar músicas do repertório da Nara Leão partiu do Nelson Motta, co-produtor à distância, do álbum. Os arranjos trazem um pouco das colagens musicais típicas do Pato Fu, mas a instrumentação concentra-se no básico, guitarra-baixo-bateria (eletrônica, aqui) e eventuais teclados. O repertório é uma delícia, Com Acúcar com Afeto é minha favorita, junto com Insensatez que traz um solo lindíssimo de guitarra de ninguém menos que Roberto Menescal. O título do disco sai de um trecho da letra de Seja o Meu Céu (do Robertinho do Recife, uma rendenção pra quem torcer o nariz pra Metalmania, publicado aqui, foi mal Dão...), uma das melhores do disco também. Outros destaques são o fox-chorinho-trote Odeon, Diz que Fui por aí e Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos. Uma delícia de disco, presente da voz relaxadamente deliciosa da Fernanda e do trabalho instrumental caprichoso do John. É só ouvir... [MATEUS]

Com você... meu mundo ficaria completo - Cássia Eller - 1999)

O som da Cássia Eller vinha evoluindo, é verdade e o disco anterior a este já era bem interessante, com releituras bem legais de Coroné Antônio Bento e Na Cadência do Samba e o megahit 'Malandragem'. Mas este disco é simplesmente perfeito! A parceria com Nando Reis, que além de produzir o disco junto com Luiz Brasil é o compositor de quase metade dele, é fundamental. Esta produção privilegia as canções, logo a voz de Cássia e a deixa muito à vontade, longe de querer vendê-la como uma roqueira revoltada como os primeiros discos sugeriam, algo que ela nunca foi. O som da banda ganhou demais com a percussão da Lan-Lan, o som ficou melhor resolvido, mais atemporal, sem exageros instrumentais. Além da faixa título, Nando Reis deu a Cássia o presentaço Segundo Sol, As Coisas tão mais Lindas e Infernal. Além destas, Cássia gravou Carlinhos Brown (Mapa do meu Nada, uma das melhores do disco), Marisa Monte (em parceria com Arnaldo Antunes, Pepeu Gomes e Moraes Moreira), Gilberto Gil, Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Luiz Melodia entre outros compositores menos conhecidos. Um Branco, Um Xis, Um Zero (de Marisa, Arnaldo e Pepeu) é outro destaque, Maluca (de Luiz Capucho) também. E não se engane, o disco é de tirar o fôlego, não tem música chata, o que se destaca é por mérito de ser bom demais!!! [MATEUS]

sábado, 6 de setembro de 2008

Metaaaaaaaaaaaal!!! (Metalmania - Robertinho do Recife - 1984)


Taí um clássico substimado do rock nacional! Só por que é metal...
Robertinho do Recife é incontestavelmente um grande guitarrista, trabalhando com vários medalhões da MPB (Fagner, Marisa Monte, Zé Ramalho etc), ganhando dinheiro com músicas infantis, experimentando com música erudita e cometendo equívocos tremendos como o Yahoo.
Como vocalista, ele é um excelente guitarrista, mas demos um desconto pra total inexperiência em gravar um disco de hard rock em 1984. Instrumentalmente o som consegue ser muito bom.
As composições são típicas do gênero: mulheres, mulheres, baladas, elementos da natureza ('Fogo', excelente!). 'Gata' é versão de 'Wild thing'. 'Corações e pernas' ainda é muito legal, experimente ouvir na estrada ou saindo pra noite.
'Assassina' teve sua radiodifusão proibida pela censura federal...bons tempos o caralho.
'Fantasia preto e prata' é a instrumental que abre muito bem o disco, com Robertinho mostrando toda sua habilidade e criatividade, além de um sonzaço.
O visual era também típico do hard rock, ou seja, ridículo: muito laquê, batom e maquiagem, além de modelitos horrendos. Lembro de dois programas de vídeos ancestrais: BB Video Roll (da record carioca) e um da globo que passava um show na praia. O primeiro, tenho em vhs, com uma performance no aniversário da radio Cidade no Hipódromo do Rio. O segundo com muita qualidade de vídeo global e aquele visual.
A música título tem um refrão pegajoso que, se fosse em inglês, talvez fosse mais legal ('bate o pé, bate a mão, a cabeça e o coração').
Contagiante e saudoso, pra quem gosta do metal.
Acho que não saiu em cd, pecado. Em compensação, baixe sem culpa: http://rapidshare.com/files/112096246/-_Robertinho_de_Recife_-_Metalmania__1984_.zip.html

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Brasil-sil-sil - Ratos de Porão (1989)


Por aqui, vamos começar com os defeitos de um disco punk: panfletário, barulhento e com letras limitadíssimas.
Mas é um discaço! Pra quem consegue ouvir seu som pesado e rápido. Pra quem não consegue, vale a capa genial...
Foi um disco de virada pro punk-hardcore nacional: som bem gravado na Alemanha e produtor gringo, o que nesse caso se traduziu num som mais nítido, tirando os vocais do João Gordo, que realmente são difíceis de entender, tanto pela velocidade quanto pela gritaria.
O disco já começa com peso, o hardcore-crossover-com-metal 'Amazônia nunca mais', panfletária claro, mas estou me repetindo...
Na seqüência 'Retrocesso', sobre o possível retorno do poder militar. Bom, a ABIN agora é dirigida por um ex-membro do SNI, então nada é tão paranóico que não possa acontecer, né?
Depois, um dos crássicos do disco: 'Aids pop repressão', que tem até um scratch chupado do hip-hop, e o refrão definitivo, 'o que é que eu fiz pra merecer isto?'.
'Lei do silêncio', ainda atual em favelas dominadas por tráficos ou milícias.
Depois de 'Gil goma', alusão ao repórter Gil Gomes, vem o outro crássico do disco: 'Beber até morrer', o que não é um incentivo, e sim uma crítica.
Algumas músicas datadas e/ou irrelevantes, como 'Plano furado II', 'Heroína suicida', 'Crianças sem futuro', 'O fim' etc. Mas num disco com 18 músicas, é inevitável.
Merecem citação ainda 'Farsa nacionalista', 'Traidor' (que começa lentinha, heresia pra um disco dos Ratos Do Porão), 'Vida animal' (divertida e escatológica), 'Porcos sanguinários' (que não é sobre palmeirenses), 'Máquina militar' e 'Terra do carnaval'.
Voltando à capa, a trilha acompanhante é 'SOS país falido'. Mas isso antes de nós pagarmos a dívida externa.
Em cd, o disco vem junto com o mais fraquinho 'Anarkophobia' (que tem a excelente 'Igreja universal'), mais 'Jardim elétrico' do disco Sanguinho novo Arnaldo Baptista revisitado. Vale a compra, pra quem não tem medo de som pesado.
A única vez que os vi ao vivo foi no Circo Voador, abrindo pro Sepultura no lançamento de 'Beneath the remains' (outro post). Fiquei impressionado com o show e a super presença do João Gordo.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Cavalo doido, cavalo de pau - Alceu Valença - 1982

Alceu Valença já tinha uma carreira quando este disco apareceu em 1982. A diferença é que com este aqui, ele se tornou um artista de projeção nacional alavancado pelo sucesso de Morena Tropicana e Como Dois Animais. Mas o disco vai bem além desses dois "hits". Rima com Rima com seu ritmo acelerado, rimas e aliterações é quase incompreensível, mas é irresistível. Pelas Ruas que Andei é um passeio por Recife, literalmente. Alceu enumera ruas e bairros da capital pernambucana procurando um amor perdido. Azar dele. Sorte nossa. Ainda tem a música que dá nome ao LP (sim, LP. Até onde eu saiba esse disco não saiu em CD), um blues nordestino. Martelo Alagoano, olha é não sei que raio de ritmo é esse aqui, mas é uma baita música. O disco ainda traz Lava Mágoas e Maracatu, num tempo que este ritmo não passava nem perto de qualquer coisa que tivesse divulgação nacional. Alceu retornaria em 1983 com outro excelente disco (Anjo Avesso, a pintar aqui no blog, num futuro post), reforçando ainda mais a parceira com o guitarrista Paulo Rafael.
[MATEUS]

Roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido? (Rita Lee - 1980)

Esse disco de 1980 intitulado "apenas" Rita Lee, segue na mesma linha do disco homônimo de 1979. É muito difícil dizer qual é o melhor dos dois (eu pendo um pouco mais pra este por razões estritamente pessoais). Rita e Roberto estão no auge da forma com muito rock'n'roll, balada, pop e música de festa. Eles inauguram o pop brasileiro da década de 80, sem perder as raízes roqueiras da rainha.
Lança Perfume está no inconsciente de qualquer um que tivesse mais de 10 anos em 1980;
Bem-me-quer é rock'n'roll no melhor estilo, e a letra é sensacional. Destaque para a guitarra fuzz de Roberto;
Baila Comigo foi "a" balada de 1980 (se não me engano emplacou em alguma novela também);
Shangri-lá é outra balada. Bem lenta, a instrumentação aqui é bem econômica, uma levada de ovation acompanhada por teclado (e voz, of course). No final entram, suaves, percussão e baixo.
Caso Sério é um bolerão que tem a ginga emprestada a dupla por Roberto e a sensualidade que se tornou a marca de Rita Lee;
Nem Luxo Nem Lixo, como Chega Mais (de 79), começa com um super riff de metais. Marina Lima regravou uma versão legal na virada do milênio, mas esta aqui ainda é campeã, com direito a acordeom e tudo mais;
João Ninguém é um reggae(?) no melhor estilo A Cor-do-Som. A letra conta a história de João Ninguém, "sem talento pra ser feliz, milionário por vocação", lembrando seus tempos de cronista com os mutantes. E o disco termina botando pra quebrar com Ôrra Meu!, puta roquenrou stoniano pra lembrar a galera que ali estava a guerrilheira-forasteira Rita Lee.
[MATEUS]

Arrombando a festa! (Rita Lee - 1979)

Rita Lee já havia sido mutante, cilibrina do éden e já tinha liderado o Tutti-Frutti, tudo isso antes de encontrar seu novo parceiro, Roberto de Carvalho. Esta parceria rendeu três filhos e uma guinada mais pop na carreira dA roqueira (Na contracapa deste Rita Lee de '79, o primeiro filho, Beto Lee, aparece na barrigona de Rita). E sabe que valeu a pena? A instrumentação ortodoxa do Fruto Proibido dá lugar a arranjos com mais ginga, teclados, sopros, sintetizadores, percussão... Olha só a lista de músicas deste discão:
Chega Mais - Começa com um riff irresistível de metais e foi tema de novela, numa época que as novelas eram assistíveis e as trilhas excelentes. A letra é um caso à parte, demonstração da face mais sexy da rainha.
Papai me Empresta o Carro - Rockão clássico contando a "triste" história do moleque que quer o carro do pai pra... meia hora no seu carro com meu bem!!!
Doce Vampiro - Baladona fundamental. A linha de baixo é hipnótica.
Corre-Corre - Em 1979 já antecipava a loucura da vida moderna.
Mania de Você - Outra balada clássica. A intro no teclado é lindona...
Elvira Pagã - Esta é a música é talvez a mais fraquinha do disco. Ainda assim é um rockão maneiro mostrando o lado "feminista" da Rita Lee.
Maria Mole - Adoro essa música. Desafio a qualquer um aqui tocar esta música pra criançada e ver o resultado.
Arrombou a Festa II - "crítica" bem-humorada da MPB em 1979.

E o melhor: a festa continuaria em 1980 (ver o próximo post).
[MATEUS]